quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A linguagem e a Construção poética

Pensar o cotidiano e suas relações, para que afinal?

TRABALHO DESENVOLVIDO ESPECIALMENTE PARA ANDRÉ BIANC E CONVIDADOS
Bate Papo: A construção da linguagem poética
Data: Sábado, 26 de outubro de 2011 – 19:00 h as 23:30
DCE - Diretório Central dos Estudantes da UNITAU - Rua Quatro de Março, 497 - Centro - Taubaté -

O tema proposto em si já gera reflexão, pois pensar não é verdadeiramente o que precisamos fazer, somente agir. Esse pensar é um peso ao qual não estamos direcionados, já que nossas ações se pautam na maioria das vezes em repetições automáticas, geradas através de impulsos sensoriais.
Seja através do que é visto nas telas, ou lido em revistas ou jornais, mesmo em internet, todo o conteúdo possível ao ser atingido, mesmo assim, nos perdemos dentro de míseros problemas existenciais que tangem normalmente nós mesmos. Após certa idade, nem o melhor programa nos tira de nossa dor, de nossas mazelas, de nossas mais profundas fraquezas.
Seja através de um relacionamento perdido, seja através do não correspondido, seja na rabeira das produções e dos consumos, seja como for, sofremos angustias, seja aquelas referidas a insegurança do que somos, já que normalmente é o outro quem define quem sou. Ou ainda nas alguras que nós mesmo nos tecemos, entrelaçando memórias que nos surrupiam os sentidos.
Normalmente somos encarcerados por nós mesmos e automotizados no restante do processo. Usualmente a vida nos envolve em situações de risco ou mormente nós mesmo que buscamos nos envolver.
Há nisso tudo porém, imensa vantagem: pensamos, mesmo sendo submetidos a tratamentos que nos emburrecem, o ser humano arrebenta seus grilhões e resiste. E a resistência fulgura no olhar. Quanto mais se enxerga, mais se vê. Se olha, se sente, se cheira, se saboreia.
O sabor vai apurando com a idade, bem como a linguagem, e nisso muito bem acerta sensitivamente nosso querido Malosti.
O enredo vai depender dos sabores. De como se aprecia a vida, essa existência, essa consciência. Que caso seja cósmica, já não é mais essa...
E é nisso que mais importa. O poeta vai se fazendo na própria vivencia, vai se descobrindo poeta, ninguém nasce poeta, vai se fazendo a própria escolha e revelia.
Pois ao poetizar, vive, respira, anseia. Muitas vezes, pelo olhar do outro, pela aprovação consentida, pela cumplicidade desprovida de julgamento, pelo apoio no emaranhado dos fatos, das letras e das medidas, num escândalo de si mesmo, enfeitado como poesia.
A poesia métrica, trabalhada, pensada e rimada. Muitas vezes fugidia aos pensamentos, condensada, apertada, polemizada, ensimesmada, pobre poesia. Aristóteles já dizia que a gramática era a prisão da alma, por que será?
Já outrora a livre poesia, sem cursos, nem regras, feita a própria mão, pelo pensar que já pensou só de ser pensado, pela significância de cada letra ao conjunto das normas e regras da língua culta.
Viver o nosso tempo é pensar o tempo que não existe e se figura na convenção das medidas que nos tomam desmedidas.
E nos aprisionam no instinto de nos dissolver de nós mesmos. Até que nós deixemos de sermos nós e passamos a não ser, não olhar, até que dessa forma, vemos algo.
O respeito, segundo Kant, é tarefa árdua, sofrida conosco mesmo. Já o amor próprio prejudica e envaidece...
Quero trazer a razão para a conversa e descobrir o sabor da razão.
Como gerar poesia da pura razão? Será que utilizamos o sabor das experiências para relatar o que pensamos? Como e porque pensamos o que pensamos e não pensamos outra coisa?
Coloquemo-nos a pensar e sejamos sinceros conosco.
O que mais motiva o pensar, não seria sempre uma renovação de sentidos?
Ou até mesmo o enfadonho desprezo pelo vivido e o anseio pela nova experiência, até descobrir que nada mudou...
O não dito do que foi dito. Baseado em que constatamos nosso hiato.
De que modo construímos as lacunas do que ouvimos?
Como ouvimos e como ouvimos.
De que forma conduzimos o nosso pensar no momento em que ouvimos algo que nos aborrece?
Percebamos que quando ficamos irados, a razão nos é desprovida e alimentamos a fera que não dominamos.
E apaziguado dessa fera, escrevemos sobre as impressões dela.
Mas, oras, porque permitimos que o que não nos enobrece nos perpetue? Nos incomode?
Porque não somos poetas para nós mesmos? Porque não renovamos o olhar diante da adversidade? Porque não conseguimos absolutamente o controle do nosso pensar?
Porque fugimos de nós mesmos sempre com medo da morte, inseguros sobre o dia de amanha, posto que a razão nos indica que tudo perecerá.
Como viver a realidade que construímos, se somos responsáveis pelos tijolos e artífices de uma comunidade que não se relaciona, não se comove, não sente...
Como articular a existência e fazer-se presença na certeza da impotência?
Como existir diante do abismo que é o próximo passo?
As relações que travamos desde o nascimento, se tornam norte e bússola para nossas convenções, as quais seriam interessantes uma revisão.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

FABRICIO CARPINEJAR - INDESCRITÍVEL PERCEPÇÃO

QUE HOMEM!!!!

O que leva o homem à impotência é o cuidado.

O que leva a mulher à frigidez é o cuidado.

O excesso de cuidado. Cuidado demais ataca.

Nunca vi uma mulher ou um homem gostar sem criticar.

O embaraço do sexo não decorre da ausência de intimidade, mas da intimidade. E da cobrança que vem com ela. Mais fácil gozar com estranhos.

Depois de partilhar meses e cadernos de jornal com nosso par, abandonamos o elogio. Passamos a cobrar e expor os defeitos para que sejam corrigidos. É o cigarro, é a alimentação, é a distração, é o pouco caso com o dinheiro, é a indeterminação do trabalho, é a preguiça. A convivência traz a preocupação com o namorado ou a namorada e uma esquisita vontade de interferir. Entre conhecer e mandar, é um passo. Ou um tropeço. As mais duras agressões não provocam hematomas, ocorrem em nome da sinceridade.

O amor é confundido com pancadaria. Um teste de resistência. Uma prova de esgotamento nervoso. Se o outro não quer, que vá embora, que desista do prêmio maior que é a confiança.

Há uma visão sádica que não ajuda nem o masoquista. Falta medida. Falta parar e recomeçar o namoro. Falta esquecer e perceber que o próprio passado não é imutável, não existe certo ou errado, que nem tudo por isso é duvidoso.

A eficácia mata o erotismo. O aproveitamento total do tempo do relacionamento não colabora com a vaidade. Custa um agrado antes de transar? Uma meia-luz de palavras?

Não estou pedindo para mentir, muito menos fingir, mas falar um pouco bem para acordar os ouvidos e despertar o interesse.

No início, os joelhos são venerados, os ombros recebem moldura de madeira, os cabelos são alisados com a decência de um espelho. As expressões afetuosas vão e voltam, repetidas com diferentes timbres. Todo homem no começo é, ao mesmo tempo, um tenor, um barítono e um baixo. Toda mulher no começo é, ao mesmo tempo, uma soprano, uma mezzo e uma contralto. Dependendo da região que toca, a voz muda.

Com a relação firmada, a excitação torna-se automática. O corpo tem que pegar no tranco.

A devassidão é trocada pela devassa terapêutica. Desculpa e por favor saem de moda. Como existe o trabalho, a casa, o dia seguinte e terminou a paixão (e somente os apaixonados são sobrenaturais e não sentem cansaço), o sexo pode ser mais prático, mais direto, pode até não ser. Na cama, estaremos falando dos problemas, das contas, do que deve ser mudado na personalidade. Não encontraremos paciência diante do relógio. Não vamos procurar cheirar a pele para atrair o beijo.

Eu compreendo perfeitamente quando um homem broxa se a cada instante é lembrado de sua barriga. Eu compreendo perfeitamente quando uma mulher decide dormir quando sua lingerie nova não foi reparada.

Nunca acusamos quem a gente não conhece.

Julgamos infelizmente quem vive nos absolvendo.