quarta-feira, 22 de junho de 2011

" A INSENSATEZ"

Insensatez
Vinicius de Moraes
Composição: Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim

Ah, insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor o seu amor
Um amor tão delicado

Ah, por que você foi fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração, quem nunca amou
Não merece ser amado

Vai, meu coração, ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade

Vai, meu coração, pede perdão
Perdão apaixonado
Vai, porque quem não pede perdão
Não é nunca perdoado

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Explicações sobre a vítima...nós mesmos

Por que será que as vezes nossa natureza fica selvagem?
Ou será que não seria esse, nosso estado natural?
O do selvagem. Como já diria Rousseau.
Será que os costumes e hábitos que nos vem através das cobranças sociais, familiares, não fazem com que nos transformemos em não selvagens, seres dóceis? ou bem humorados?
Qual a relação entre mal humor e selvageria?
Será que o conceito de ordem e progresso de Augusto Comte, base a qual vive o capitalismo não teria sido fundamentado num conceito de normalidade duvidoso?
Posto que o normal foi sendo "determinado" e através dessas determinações é que somos escravizados, pois não podemos ser nós mesmos, nesse sentido a vitimização do texto anterior.
Somos somente reflexo de algo social e tudo isso se manifesta através da doença, da vida
" um ser vivo é normal num determinado meio na medida que ele é solução morfológica e funcional encontrada pela vida para responder as exigencias do meio" (Canguilhem, 1943)
e a irritação é o seu oposto, ou expoente...ou seja, ou estamos excitados ou irritados...

"O normal e o patológico" fragmentos

Os trechos são indicações de fragmentos da obra "O normal e o Patológico" de Georges Canguilhem, da 9ªed da editora florense de 1966 e as paginas estão referidas ao final do texto.
O texto se encontra disponível:
http://pt.scribd.com/doc/52289555/O-Normal-e-o-Patologico

"É no presente que os problemas solicitam uma reflexão. Se a reflexão leva a uma regressão, a regressão é necessariamente relativa à reflexão. Assim, a origem histórica importa menos, na verdade, que a origem reflexiva." 1966,P22

Será que, afirmando seriamente que a saúde perfeita não existe e que por conseguinte a doença não poderia ser definida, os médicos perceberam que estavam ressuscitando pura e simplesmente o problema da existência da perfeiçãoe o argumento ontológico? p.28

O problema da existência efetiva de uma saúde perfeita é análogo.Como se a saúde perfeita fosse apenas um conceito normativo, um tipo ideal? Raciocinando com todo o rigor, uma norma não existe, apenas desempenha seu papel que é de desvalorizar a existência para permitir a correção dessa mesma existência. Dizer que a saúde perfeita não existe é apenas dizer que o conceito de saúde não é o de uma existência, mas sim o de uma norma cuja função e cujo valor é relacionar essa norma com a existência a fim de provocar a modificaçãodesta. Isso não significa que saúde seja um conceito vazio. P.29

Antes de tudo, porém, no que se refere ao caso concreto da úlcera, deve-se dizer que o essencial da doença não consiste na hipercloridria, mas sim no fato de que, nesse caso, o estômago digere-se a simesmo, estado que, devemos admitir, difere profundamente do estado normal. Diga-se depassagem que esse exemplo talvez sirva para fazer entender o que é uma função normal. Uma função poderia ser chamada de normal enquanto fosse independente dos efeitos que produz. O estômago é normal enquanto digere sem se digerir. Aplica-se às funções a mesma regra que às balanças: primeiro fidelidade, depois sensibilidade p. 31

É de um modo bastante artificial, parece, que dispersamos a doença em sintomas ou a abstraímos de suas complicações. O que é um sintoma,sem contexto, ou um pano de fundo? O que é uma complicação, separada daquilo que ele complica? Quando classificamos como patológico um sintoma ou um mecanismo funcional isolados, esquecemos que aquilo que os torna patológicos é sua relação de inserção na totalidade indivisível de um comportamento individual.p,34

O normal e o Patológico - um ensaio acerca de George Canguilhem

Desde o nascimento, a fórceps, senti a resistência pulsar em minhas veias...
Aos sete anos já questionava a Trindade e vamos combinar não há nada de normal nisso.
Quebrar barreiras, insistir no entendimento de como as coisas são num tempo como o nosso não é lá tarefa para ajuizados.
Mas, como a filosofia é a remissora das causas ditas "perdidas", posto que para a filosofia o importante é a elucidação, o clarear das idéias...não importando quais...
Investigar, problematizar é tarefa das faculdades tidas como racionais, tanto é que desde Descartes no século XVI vemos separando as coisas para facilitar a dita ciencia.
E como não é de se espantar sempre percebemos algo na surdina das coisas, um quê de nada explicativo...esses dias enviei uma provocação a um professor sobre o nada sartreano que ficou sem resposta, ou fui tida como estúpida ou como sei lá o que, que não merecesse resposta, mas voilá as coisas e as pessoas são e ponto.
Sartre mesmo irá argumentar "O que importa não é o que fazem com vc, mas o que vc faz com o que fazem de vc".
E foi assim que encontrei Canguilhem nesse espantar com conceitos tidos como naturais e universais...
Esse francÊs que já é do século XX tendo nascido num vilarejo da França em 1904 e morrido em 1995 com 91 anos deixou um legado de provocações ao sistema positivo que estava se impondo o que nos dariam as bases do liberalismo, neo liberalismo, e nossa economia de mercado.
Além de filósofo foi médico e atuou e viveu a Segunda Grande Guerra, critica profundamente a forma de como as questões voltadas À pratica e ao olhar da medicina foi construida a partir de premissas únicas e não questionáveis como as de Broussais.
Interessante é a perspectiva que traz ao analisar o normal e o patológico do ponto de vista organico, genetico e histórico, demonstrando que o mal estar na civilização é na verdade a consequencia daquilo que fazemos de nós sem percebermos.
A falencia dos orgãos generalizadas que culmina na morte, não é mais do que o encerramento de uma sintonia de vida que não teria como não desafinar, posto que maior mistério não há da harmonia de tantas notas juntas na musica.
Bem como a distinção do ser vivo tido como normal, diante de um enquadramento que se dá no centro daquilo que definimos como norma, regra.
Quando entendemos que o conceito de normal se dá de acordo "À altura dos deveres resultantes do meio que lhe é próprio", também temos a definição do que seria o ser vivo normal quando está num determinado meio "na medida em que ele é solução morfológica e funcional encontrada pela vida para responder as exigencias do meio" 1943, p.21
outra definição interessante seria a do conjunto dos disturbios causados atualmente são "produzidos na economia pelos agentes que tornam os fenomenos da vida mais ou menos pronunciados do que o são no estado normal".
Ou seja, nossos "stress" que geram angustia, palpitação nervosa, inercia, vontade de não fazer nada, nada mais são que sintomas de nosso tempo e nossas exigencias.
Demonstram que como tais devem ser analisadas, devemos recorrer o olhar ao que já está posto como ordem e progresso que ordem? e progresso de quem?
Quando olhamos para nosso corpo e percebemos que nada dele sabemos e que aceitamos como verdades formas de viver e manifestar para atingir objetivos para que e para quem mesmo?
Por isso os livros de auto ajuda e a necessidade das pessoas se relacionarem, segundo o autor a falta de excitação é a maior parte dos nossos males, já que no caso o início de todas as coisas, o fato vital primordial seria a excitação, o homem só existe pela intensidade dela, o oposto seria irritabilidade, ou estaríamos num estado ou no outro. E essas manifestações são exercidas nos órgãos vitais pelos meios em que somos obrigados a viver.
A idéia de Canguilhem é a de que na verdade o que só existem seria a doença.
Pois as doenças aumentam, diminuem, interrompem, deterioram a inervação do encéfalo sob os aspectos instintivo, intelectual, sensitivo e muscular.
Aquilo que é normal provém de certa normatividade, a vida só existe para esse autor por conta da "incitabilidade" que seria o que nos permite sermos afetados e reagirmos.
Se entendermos como funcionamos, talvez, só talvez, desmisitificaremos aquilo que não conseguimos explicar e perceberemos que somos mais vítimas do que imaginamos...