quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Reflexões Filosóficas

É também função da filosofia analisar a realidade e desse modo buscar explicações e propor análises que possibilitem a cada ser humano, compreender, vivenciar, existir como construtor autônomo e responsável da sua própria existência.
...
Podemos simplificar essa ação acerca da reflexão efetiva de como o Brasil acontece hoje. De como nossa cidade, nosso estado, reage às questões propostas para um fim mundial. Pois se o planeta está comprometido, cada habitante dele também está. Precisamos vivenciar as questões sociais, dentro de cada esquadrinhamento que foi montado pelo próprio humano.
...
Humano que como se fosse uma grande aranha a tecer, arrematando suas teias em valores, crenças e hábitos, acreditando ser sua melhor forma de tecer, ou até mesmo se aproveitando de sua condição de aranha. Por todos os instantes escolhemos e decidimos por ações dentro desse esquadrinhamento, engessando valores, preconceitos e paradigmas, que ganham forma na mídia em geral, nas inúmeras formas de acesso que ganham corpo social, apontando e sugestionando sobre como conduzir a vida do cotidiano, e passivamente, permissivamente, aceitamos e acolhemos essas “sugestões”.
...
O que pretendemos de fato? Creio que temos que buscar freneticamente a sobrevivência através da moeda de troca e que ficamos enfraquecidos em nossas propostas pessoais, perdendo-as dentro da necessidade do consumo que nos é aceita, ou em comprimidos de tarja preta.
...
Urge buscarmos o significado da existência humana, bem como buscar o que entendemos por ética e como desejamos estar daqui há 30, 40 ou 100 anos. Necessitamos entender que nossas decisões hoje, refletem na estrutura de um planeta. Cada criança hoje, permite a possibilidade de algo distinto. Somos sementes de esperanças, plantadas em terreno muito arenoso, precisamos acreditar nas perspectivas que traçamos às nossas existências em busca de um fim comum, mesmo que dentro disso, encontremos a facilidade de vivenciar uma experiência baseada em propostas superficiais e de interesses próprios.
...
Acreditamos que refletir a existência é mais do que propor reflexões em que poucos tem acesso, devido a intensidade de suas análises, mas sim, de que todos que possam ter contato com a possibilidade da perspectiva de uma construção em que possamos opinar, entender e refletir o que ocorre em nossa volta.
Não que sem essa proposta, não se possa buscar soluções. O que essa coluna propõe, é um reolhar, propondo uma provocação do entendimento acerca do humano e da vivencia e entendimento de sua realidade.
...


SIMONE SUELENE

sábado, 29 de março de 2008

Filosofia, para quê?

Existem homens que empurram uma criança para a água com a intenção de a afogar; e outros homens que sacrificariam a vida para salvá-la!

Não lhe faz confusão viver num mundo em que tudo, da informação que nos "servem", às relações entre as pessoas são superficiais, quando não mesmo falsas?

Não lhe faz confusão viver num mundo que valoriza o espetáculo e a mentira ? Que premia não os que melhor fazem, ou os que dizem a verdade, mas os que melhor fingem e mentem ? Num mundo em que também os políticos, de todos os países e de todos os quadrantes, se enchem de mordomias e são tão freqüentemente corruptos ?

“O homem pode converter-se no mais divino dos animais, sempre que se o eduque corretamente; pode também, converte-se na criatura mais selvagem de todas as criaturas que habitam a terra, em caso de ser mal-educado”. Platão, em Fedro.

Uma das funções do filósofo é o critério da observação, criticidade e análise.

quarta-feira, 26 de março de 2008

SER FELIZ É UMA DECISÃO!

Você é feliz?

Durante um seminário para casais, perguntaram

a uma das esposas:

- 'Seu marido lhe faz feliz? Ele lhe faz feliz de verdade?'

Neste momento, o marido levantou seu pescoço, demonstrando total segurança.

Ele sabia que a sua esposa diria que sim, pois ela jamais havia reclamado de algo durante o casamento. Todavia, sua esposa respondeu a pergunta com um sonoro 'NÃO', daqueles bem redondos!

- 'Não, o meu marido não me faz feliz'! (Neste momento o marido já procurava a porta de saída mais próxima).

'Meu marido nunca me fez feliz e não me faz feliz!

Eu sou feliz'.

E continuou: 'O fato de eu ser feliz ou não, não depende dele; e sim de mim.

Eu sou a única pessoa da qual depende a minha felicidade.

Eu determino ser feliz em cada situação e em cada momento da minha vida, pois se a minha felicidade dependesse de alguma pessoa, coisa ou circunstância sobre a face da Terra, eu estaria com sérios problemas.

Tudo o que existe nesta vida muda constantemente: o ser humano, as riquezas, o meu corpo, o clima, o meu chefe, os prazeres, os amigos, minha saúde física e mental.

E assim eu poderia citar uma lista interminável.

Eu decido ser feliz!

Se tenho hoje minha casa vazia ou cheia: sou feliz!

Se vou sair acompanhada ou sozinha: sou feliz!

Se meu emprego é bem remunerado ou não: eu sou feliz!

Sou casada, mas era feliz quando estava solteira.

Eu sou feliz por mim mesma.

As demais coisas, pessoas, momentos ou situações

eu chamo de 'experiências que podem ou não me proporcionar momentos de alegria e tristeza'.

Quando alguém que eu amo morre eu sou uma pessoa feliz num momento inevitável de tristeza.

Aprendo com as experiências passageiras e vivo as que são eternas como amar, perdoar, ajudar, compreender, aceitar, consolar.

Há pessoas que dizem: hoje não posso ser feliz porque estou doente, porque não tenho dinheiro, porque faz muito calor, porque alguém me insultou, porque alguém deixou de me amar, porque eu não soube me dar valor, porque meu marido não é como eu esperava, porque meus filhos não me fazem feliz, porque meus amigos não me fazem feliz, porque meu emprego é medíocre e por aí vai.

Eu amo meu marido e me sinto amada por ele desde que nos casamos.

Amo a vida que tenho, mas não porque minha vida é mais fácil do que a dos outros.

É porque eu decidi ser feliz como indivíduo e me responsabilizo por minha felicidade.

Quando eu tiro essa obrigação do meu marido e de qualquer outra pessoa, deixo-os livres do peso de me carregar nos ombros.

A vida de todos fica muito mais leve. E, é dessa forma que consegui um casamento bem sucedido ao longo de tantos anos.

Nunca deixe nas mãos de ninguém

uma responsabilidade tão grande quanto a de assumir e promover sua felicidade.'

segunda-feira, 10 de março de 2008

Linha do tempo- Filosofia

Período Naturalista
ou Pré-Socrático.
A procura pelo Princípio Constitutivo de todas as coisas e o Nascimento da Filosofia.
Escola Jônica: Tales de Mileto; Anaximandro; Anaxímenes.
Escola Pitagórica: Pitágoras.
Escola Heleática: Xenófanes; Parmênides.
Heráclito
Empédocles
Demócrito
Período Antropológico
As questões Filosóficas se dirigem para a problematicidade da Verdade e da possibilidade do Conhecimento.
Os Sofistas: Protágoras e Gorgias.
Período Sistemático
A Filosofia Converge para a construção dos dois grandes Sistemas Filosóficos.
§ Platão e o Sistema Platônico
§
Período Ético
As questões Filosóficas se dirigem para a problematicidade do mundo Ético e a possibilidade Felicidade.
§ Estoicismo
§ Epicurismo
§ Ceticismo
Período Ético-Religioso
As soluções Filosóficas para as questões referentes ao mundo Ético e à procura da Felicidade se mesclam com as soluções de caráter religioso.
Neoplatonismo.
Os Pensadores de Alexandria: Fílon; Clemente e Orígenes
A Patrística
Pré-Agostiniana
A Construção do Pensamento Cristão
e as Tensões entre
Fé e Razão.
Os Filósofos (Terapeutas) de Alexandria:
Fílon; Clemente e Orígenes.
Plotino
A Patrística
Agostiniana
A primeira aproximação realizada entre a Filosofia Grega e a Teologia Cristã e
as primeiras conciliações entre Fé e Razão.
Santo Agostinho
O Renascimento.
Uma nova visão de mundo e as mudanças de Paradigmas: Conhecer para Transformar.
Nicolau de Cusa
Bernardino Telésio
Giordano Bruno
Michel Mantaigne
Thomas Morus
Nicolau Maquiavel
A Reforma Protestante: Lutero e Calvino
A Contra Reforma: Tomás Campanella
Os Pilares da Nova Ciência: F. Bacon e Galileu Galilei.
A Consolidação da Nova Ciência e do conceito
de Razão Instrumental.
O Racionalismo: R. Descartes, Spinoza, Malebranche, Leibniz, Pascal.
O Empirismo: Tomas Hobbes, J. Locke, J. Berkeley, D. Hume.
As Grandes Revoluções e a Construção da Modernidade
e do Capitalismo.
O Iluminismo Francês: Montesquieu, Voltaire, Diderot, D’ Alambet, Condillac, Rousseau...
O Iluminismo Inglês: Newton, Boyle..
§O Iluminismo Alemão: Wolff, Lessing
§
§O Iluminismo e as duas Grandes Revoluções: “Revolução Francesa” “Revolução Industrial”.
A Transição: Da Modernidade à “Pós-Modernidade”
O Idealismo Alemão: Fichte, Schelling, Hegel e a Construção de 3o. Grande Sistema Filosófico
As Críticas ao Idealismo e à Sociedade Moderna: A Esquerda Hegeliana e o Materialismo Dialético: Feuerbch, Engels e K. Marx.
Os Voluntaristas: Schopenhauer, Hartmann, Kierkeggard, Nietzsche, Freud
Os Positivistas:
O Positivismo Francês: Saunt-Simon e Augusto Comte...
O Positivismo Inglês: Charles Darwin, Herbert Spencer, Stuart Mill...
O Positivismo Alemão: Richard Avenarius, Ernst Mach...
O Positivismo Italiano: Carlo Cattaneo, Roberto Ardigò...
A Fenomenologia: Edmund Husserl
O Existencialismo: K. Jaspers, Gabriel Marcel, Sartre, Heidegger...
O Espiritualismo: Henri Bérgson, Blondel, J. Maritain...
O Estruturalismo: Lévi-Strauss, M. Foucault.
Os Revisionistas e a Teoria Crítica: Gramsci, Marcuse, Horkheimer, Adorno, Garandy...
A Filosofia da Ciência e a Epistemologia: Bertrand Russell, Karl Popper...
A Filosofia da Linguagem: Ludwig Wittgenstein, Rudolf Carnap e o Círculo de Viena.
O Pragmatismo e os Filósofos Americanos: John Dewey, Peirce, William James, John Watson, Skinner ...
A 2a. Guerra Mundial, As Grandes Descobertas Científica e a Pós-Modernidade
As Leituras e Críticas à “Pós-Modernidade”: Gilles Deleuze, Felix Guattari, Jacques Derrida, Habbermas, e outros.
Filosofia da Linguagem
Teorias da Informação
Teoria Sistêmica

quinta-feira, 6 de março de 2008

A importância da Orientação Profissional

A IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NA FASE DA ADOLESCÊNCIA

Maria Cristina da Fonseca Redondo
Josefina Martins Carvalho
DERDIC-PUCSP

A identidade pessoal é um dos temas de maior importância na personalidade do adolescente por vincular-se à sua história pessoal, uma vez que é na adolescência que começamos a tecer nosso próprio relato de vida e que caracterizará nossa individualidade.

Na adolescência as interações sociais ampliam-se com a participação nos diferentes grupos aos quais o adolescente pertence: grupos da escola, da igreja, de esportes, de passeios no shopping, de clubes e associações, etc.

Essas novas referências possibilitam um confronto sadio com as adquiridas anteriormente na família, as quais serão utilizadas como auto-referência para dar significados pessoais aos acontecimentos, fugindo dos conflitos a serem enfrentados. Muitas vezes esses fatos são traduzidos por imaturidade emocional e enrijecimento geral da personalidade, manifestados por atitudes de padrões infantis, sem a elaboração adequada.

Nesta fase da vida, é comum encontrar queixas de que o adolescente sente-se perdido e desinteressado em relação ao seu futuro profissional. Apresenta-se com a auto-imagem deformada e confusa em relação aos seus interesses e habilidades; faz uso de soluções pouco reflexivas ou influenciadas pelos amigos e familiares.

O ideal é que o adolescente seja ativo em suas escolhas, que possa se basear na auto-análise, na compreensão pessoal, no reconhecimento de vantagens e exigências de uma ocupação. É preciso, ainda, que identifique os requisitos profissionais e analise suas características pessoais, para que possa, então, escolher de forma a ser feliz com o que faz.

O ensino fundamental e médio devem propiciar ao adolescente oportunidades onde diferentes situações conflitantes sejam discutidas, amadurecidas, superadas, ou pelo menos atenuadas. Com isso, facilitará a possibilidade desse jovem traçar um plano de carreira profissional individual mas compartilhado com seus colegas de classe, seja pela identificação de suas aspirações e limitações, seja pelas condições reais do mercado de trabalho.

Artigo extraído do texto : REDONDO, MCF; CARVALHO, JM. Capítulo V- Adolescência : Construindo a Identidade Pessoal , a ser publicado pelo MEC , 1999 ( no prelo).

Sociologia - Emile Durkheim

A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM

O POSITIVISMO E AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO

Segundo Émile Durkheim, a sociologia deveria descobrir as leis do progresso e do desenvolvimento social, cabendo-lhe, ainda, descobrir normas de conduta dos indivíduos.

Partindo desse ponto, a ciência da sociedade deveria observar fatores de comportamento comuns a todos os homens, utilizando em suas investigações os mesmos procedimentos das ciências naturais, quais sejam: a observação, a experimentação, a comparação e etc.

Através dessa análise da sociedade surge o termo "fato social", que é uma consciência coletiva, ou seja, é o conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, que forma um sistema determinado, com vida própria (generalidade).

Esses "fatos sociais" apresentam coercitividade, exterioridade e generalidade.

O sociólogo deve deixar de lado suas prenoções ao analisar um fato social, ou seja, seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento a ser estudado, nada têm de científico e podem distorcer a realidade dos fatos.

Essa postura exige o não-envolvimento afetivo ou de qualquer outra espécie entre o cientista e seu objeto. A neutralidade exige também a não-interferência do cientista no fato observado.

Para se obter um resultado sem margem de erros, o fato social deve ser tratado como "coisa", isto é, objetos que, lhe sendo exteriores ao pesquisador, deveriam ser medidos, observados e comparados independentemente do que os indivíduos envolvidos pensassem ou declarassem a seu respeito.

Para a constatação dessa afirmativa é necessário o uso de certos critérios científicos, dentre eles a experimentação (laboratório), que consiste na observação e análise dos fenômenos naturais, tendo como base um determinado grupo de indivíduos que servirá de alvo para tratamentos e para manipulação que o experimentador (Sociólogo) opera, a fim de verificar uma reação de "causa/efeito".

A partir dessa pesquisa "laboratorial" (questionários) pretende-se demonstrar que os fatos sociais têm existência própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular (são exteriores).

Portanto, a partir do momento em que os fatos sociais são vistos como "coisas" - tudo o que pode existir concretamente, nenhum pensamento pode ser formulado, nenhuma idéia extraída - a sociologia dá um passo adiante e passa a ser vista com ‘status’ de ciência, tendo por objeto de estudo o fato social, com propriedades fixas capazes de serem compreendidas cientificamente.

Durkheim pretendia, com a definição do que vem a ser o fato social, mostrar que este é uma consciência coletiva, ou seja, é o conjunto das maneiras de agir, de pensar e sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude do que se lhe impõe.

Em outras palavras, a sociedade já está pronta e constituída antes do próprio nascimento do indivíduo e os fatos sociais são uma característica dessa sociedade, independente da vontade de cada indivíduo.

Orientação Profissional - Decisão Madura

UMA DECISÃO MADURA?

1- O exame vocacional de um estudante indica a profissão de contador, mas ele gostaria de ter um trabalho dinâmico, que envolvesse viagens. Que atitude ele deve tomar?

a- Pesquisar como pode usar as habilidades em contabilidade sem, no entanto, ficar atrelado a um escritório.

b- Pedir para realizar outro teste, uma vez que os resultados do primeiro podem estar errados.

c- Escolher o que o teste indicou, afinal nessa carreira há mais possibilidade de sucesso.

d- Não levar o teste em conta e fazer aquilo que tiver vontade.

2- Na hora de pesquisar sobre uma carreira, qual é a primeira informação que o estudante deve buscar?

a- Como é a rotina do profissional na carreira de interesse.

b- Quais faculdades oferecem o curso.

c- Qual o salário dos profissionais nessa área.

d- Quantas são as horas de trabalho diário.

3- Qual é o passo mais adequado que um aluno que se sai bem em todas as disciplinas da escola deve tomar quando não sabe que profissão lhe agrada?

a- Escolher cursos amplos que encorajem o trabalho em diversas áreas.

b- Adiar a faculdade até que se definam os seus projetos profissionais.

c- Escolher um curso que lhe agrade um pouco e trocar se não gostar.

d- Escolher um curso bem difícil para diferenciar-se dos demais alunos.

4- O que mais se deve levar em conta na hora de optar por fazer um curso técnico ou uma faculdade?

a- O cargo a que o aluno pretende chegar e a formação que ele exige.

b- Os ganhos econômicos imediatos.

c- A opinião dos pais.

d- A profissão que as pessoas respeitam mais.

5- Qual é o melhor conselho para um aluno do último ano do ensino médio que tem excelentes notas e é habilidoso em mais de uma área mas não tem um projeto profissional?

a- Ele deve descobrir em qual momento definir os cursos para o vestibular e, nesse ínterim, concentrar-se em pesquisar sobre as carreiras, conversando com profissionais.

b- Ele deve dedicar atenção à escolha do curso universitário que lhe parecer mais promissor.

c- Ele está atrasado em sua decisão. Deve fixar um objetivo o mais rápido possível.

d- Dado seu desempenho na escola, não há motivos para se preocupar ou se sentir pressionado.

6- Ao se sentir tentado a escolher uma profissão em alta, que tem grande demanda no mercado e oferece ótimos salários, o que o estudante precisa considerar também?

a- Se as exigências da profissão combinam com seus interesses e aptidões.

b- Se essa carreira está apenas “na moda” ou tem mercado promissor.

c- Quais são os campos em que esse profissional pode atuar.

d- Quanto tempo de estudo é necessário.



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Positivismo - Augusto Comte

O POSITIVISMO

(NA VISÃO DE AUGUSTE COMTE)

Auguste Comte (1798-1857), nascido em Montpellier, França, tornou-se discípulo de Saint-Simon, de quem sofreu enorme influência. Sua principal característica foi a devoção aos estudos e à filosofia positivista.

A definição de Auguste Comte quanto à sociologia é de que ela deve ser vista como uma ciência da sociedade, denominando-a, inicialmente de "física social".

Baseando-se na definição de que a sociologia é uma ciência da sociedade, bem como apoiando-se no conselho dos pensadores iluministas do século XVIII, que afirmavam que podemos entender as leis da sociedade humana aplicando-se os instrumentos da ciência, Auguste Comte insere uma nova teoria da sociedade, denominada "positiva".

A "teoria positiva" partia do princípio de que os homens deveriam aceitar a ordem existente, não devendo contestá-la. Assim, também, ao ser humano cabe "revelar" o mundo não existindo a possibilidade de "mudá-lo".

O objetivo da sociologia, portanto, é definir o que a sociedade é e não dizer o que ela deveria ser.

O positivismo está alicerçado na prática da coleta de dados sobre determinada sociedade, cuja análise será feita através da constatação e confirmação desses dados.

É composto pela experimentação, pelo pragmatismo e pelo empirismo.

Não basta, portanto, a apresentação de idéias vagas, sem consistência, e, principalmente, sem fundamentação.

Para Auguste Comte as leis estabelecidas pela ciência deverão ser aceitas, não podendo haver nenhum tipo de contestação quanto ao que elas afirmam ou impõem.

A crença no que de fato existe é primordial.

A verdade científica trata dos fenômenos ou fatos dominantes ou constantes, não tendo como objetivo atingir as causas, limitando-se apenas a constatar a "ordem que reina no mundo".

A evolução do intelecto e da consciência do homem só serão possíveis se este voltar-se para o passado, portanto, a ciência deve revelar uma ordem e permitir a ação do homem, caso contrário, sua existência de nada valeria.

As leis da natureza são sólidas, verdadeiras. Trata-se do mundo intelegível, motivo pelo qual Auguste Comte diz que o homem não deveria estar preocupado com as questões futuras, nem prender-se a detalhes.

Para Auguste Comte havia uma hierarquia na natureza, podendo compor-se de fenômenos simples ou complexos, sendo de natureza orgânica ou inorgânica, inerente aos seres vivos e ao homem.

Sua visão era de que o mundo poderia ser interpretado partindo-se do princípio de que havia um condicionamento que era feito pelo inferior ao superior, porém não havia como determiná-lo, ou seja, os fenômenos da vida ou fenômenos sociais eram condicionados, porém não determinados pelos fenômenos químicos e físicos.

A Sociologia, segundo Comte, deve exercer uma espécie de magistratura espiritual, pois todas as ciências se voltam para ela, por representar o nível mais alto de complexidade, de nobreza e de fragilidade.

A humanidade é o único referencial para se obter as informações necessárias quanto aos conhecimentos e métodos existentes.

Portanto, a Sociologia é a ciência do entendimento, pois para se entender o espírito humano será necessário observar sua atividade e sua obra na sociedade, através dos tempos.

O modo de pensar e a atividade do espírito são solidários com o contexto social, estando vinculados a uma determinada época de cada pensador.

Para Auguste Comte o homem precisa amar algo que seja maior do que ele, pois a sociedade necessita de um poder espiritual, ou seja, o homem deve amar aqueles, que de alguma maneira, perpetuaram suas idéias ou ideais e que, com isso, colaboraram para com a humanidade.

Desta feita, a sociologia passa a ser uma abordagem científica para compreender a vida social do homem, como também uma perspectiva que se preocupa com a natureza do ser humano, o significado e a base da ordem social e as causas e conseqüências da desigualdade social.

A sociologia é, portanto, uma tentativa de compreender o ser humano em grupo. Concentra-se em nossa vida social.

Não enfoca a personalidade do indivíduo como a causa do comportamento, mas examina a interação social, os padrões sociais e a socialização em processo (origem e desenvolvimento das sociedades.

Auguste Comte pretende, com sua "teoria social", separar definitivamente toda e qualquer influência proveniente da filosofia, da economia ou da política, enfocando somente um aspecto para objeto de estudo, "o social", que deve ser analisado sem tais influências.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Tarefa de Sociologia

Ler a entrevista do "mundo jovem-poder" e responder:
http://www.mundojovem.com.br/entrevista-03-2008.php

a) Qual a pertinência do assunto?
b) Destaque os pontos que você considera mais relevante da entrevista. Justifique.

Desejo - Carlos Drummond Andrade

DESEJO

Carlos Drummond de Andrade

Desejo a vocês...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Filme do Carlitos
Chope com amigos...
Frango caipira em pensão do interior
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Bater palmas de alegria
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

Norberto Bobbio

Bobbio foi um actor importante no combate intelectual que conduziu ao confronto entre as três principais ideologias do século XX: o nazi-fascismo, o comunismo e a democracia liberal. Confronto que é responsável, em grande parte, pela arquitectura do sistema internacional e pela divisão do mundo em dois blocos políticos, militares e ideológicos que subsistiu até 1989.

Seu pensamento, durante grande parte da maturidade de sua carreira, esteve circunscrito ao círculo restrito dos meios intelectuais italianos, mas vem se tornando gradualmente conhecido em todo o mundo, primeiro por força dos seus estudos de filosofia do direito, sobre o jusnaturalismo e positivismo jurídicos, sobre a constructibilidade dos sistemas constitucionais, depois, pelos seus ensaios e polémicas sobre a democracia representativa, o ofício dos intelectuais, a natureza e as múltiplas dimensões do poder, a díade esquerda-direita, o futuro de um socialismo não-marxista e democrático, e finalmente os problemas da relação truculenta entre ética e política.

Será portanto difícil integrar a sua figura de pesquisador incansável, pensador persistente, de homem da cultura com relevante influência política e social, que não se esgota na actual estratificação político-partidária. Homem da escrita, da polémica acutilante e contundente, de convicções e temores, professa um pensamento coerente e exigente que se estriba nos valores de uma sociedade livre, democrática e laica que seja capaz pela prática do diálogo e da tolerância de vencer as suas dificuldades e realizar as promessas de progresso e desenvolvimento com que se comprometeu.

Por isso o seu pensamento político, constitucional e filosófico casa mal com escolas e fidelidades e não enjeita uma dimensão ética e transcendental a que paulatinamente se acerca. Parte de uma reverência especial das lições dos seus mestres intelectuais e de vida: Kant, Rousseau, Hobbes, Kelsen mas também Benedetto Croce, Max Weber, Solari, Schmitt, nos primeiros – Passerin d’Entreves, Luigi Einaudi, Renato Treves, Giole Solari, nos segundos. Continua nos exemplos dos seus companheiros: Aldo Capitani, Rodolfo Monfoldo, Leone Ginzburg que marcam a sua ligação a: "essa minoria de nobres espíritos que defenderam até ao fim, uns com o sacrifico da própria vida, nos anos duríssimos, a liberdade contra a tirania, a tolerância contra o atropelo, a unidade dos homens acima das raças, das classes e das pátrias, contra a divisão entre eleitos e réprobos" para preencher os caminhos de uma vida intelectual plena como homem da razão e da tolerância.

No campo da Filosofia do Direito Norberto Bobbio incorpora-se na corrente dos que identificam no corpo doutrinal três áreas de discussão: uma área ontológica, da Teoria do Direito, que se preocupa com o direito com existe, procurando alcançar uma compreensão consensualizada dos resultados da Ciência Jurídica, da Sociologia Jurídica, da História do Direito e outras abordagens complementares; uma área metodológica que compreende uma Teoria da Ciência do Direito e que recai no estudo da metodologia e dos procedimentos lógicos usados na argumentação jurídica e no trabalho de aplicação do Direito; e, por fim, uma área filosófica materializada numa Teoria da Justiça como análise que determina a valoração ideológica da interpretação e aplicação do Direito, no sentido da valorização crítica do direito positivo.

Bobbio, justiça e liberdade


Nascido em Turim, no dia 18 de outubro de 1909, filho de uma família burguesa do norte da Itália, Norberto Bobbio praticamente viveu o século XX por inteiro, vindo a falecer na mesma cidade aos 94 anos, no dia 9 de janeiro de 2004. Ele tornou-se, nos últimos anos, o pensador político italiano mais famoso do mundo e, bem ao contrário de Nicolau Maquiavel, seu conterrâneo que viveu no Renascimento, tornou-se um diligente ativista dos direitos individuais e não um apologista dos poderes do estado. Bobbio, emérito professor de Direito e Política em Turim, um filósofo da democracia, foi um insuperável combatente a favor dos direitos humanos.

No partido da ação




"Cultura é equilíbrio intelectual, reflexão crítica, senso de discernimento, aborrecimento frente a qualquer simplificação, a qualquer maniqueísmo, a qualquer parcialidade".
N. Bobbio, em carta a G.Einaudi, julho de 1968

Numa Itália dilacerada desde a queda de Mussolini, ocorrida em 25 de julho de 1943, assistindo as forças alemãs do marechal Kesselring e as anglo-americanas do marechal Alexander a travarem batalhas de vida e morte, é que renasceu o pequeno Partito d´Azione, o partido da ação. No século XIX, no chamado Ressurgimento, época das lutas pela unificação nacional, ele fora o instrumento dos patriotas G.Mazzini e de Garibaldi. Voltara à vida liderado por Guido Calogero e por Aldo Capitini, congregando basicamente um grupo de intelectuais preocupados em recuperar a liberdade italiana. E, entre eles, estava Norberto Bobbio, então um conhecido professor de filosofia política de 34 anos.

Como estavam numa área ainda sob controle fascista, a maioria deles foi presa, sendo que Bobbio, encarcerado na Scali di Verona, só foi libertado três meses depois, em fevereiro de 1944. Era uma agremiação estranha aquela pois se dizia liberal-socialista, uma composição somente possível na Itália.

Pois foi justamente assim, como liberal-socialista que Norberto Bobbio se projetou internacionalmente como um nome ligado à teoria política. Apesar do partido dele ter-se esfumaçado na guerra fria, quando o país se dividiu entre a democracia-cristã e os comunistas, Bobbio, dedicando-se ao jornalismo no periódico turinês “Giustizia e Libertà”, cresceu em fama levando pedradas dos dois lados.

Os três cardeais




No século XX, a Itália conhecera três cardeais seculares. Famosos homens de letras e pensamento ao redor dos quais se deram os enfrentamentos ideológicos e culturais. Um deles era o filósofo Giovanni Gentile (1875-1944), que seguiu o fascismo até o fim; outro fora o notável crítico e historiador Benedetto Croce (1866-1952), senador vitalício e personagem maior do liberalismo italiano; o derradeiro deles era o pensador marxista Antônio Gramsci (1891-1937), líder do partido comunista, morto na cadeia. Bobbio, ao colocar-se ao lado da Resistência antifascista, rejeitando Gentile, de certo modo tentou realizar a síntese entre os outros dois: Croce e Gramsci.

Quer dizer, aproximar a tradição liberal da defesa dos direitos (de liberdade, de palavra, de imprensa. etc...), aos propósitos sociais dos marxistas (proteção ao trabalho, direitos previdenciários, organização sindical, etc...). Dedicou-se a difícil arte de conciliar a Liberdade com a Igualdade.

Íntimo dos clássicos, seus interlocutores foram Hobbes, Locke, Beccaria, Kant, Hegel, Marx, Weber e Kelsen, a quem ele releu criativamente, tentando extrair-lhes denominadores comuns para sua tese de afirmação plena na democracia como o melhor sistema político a ser alcançado. Por igual foi herdeiro da bela tradição do iluminismo italiano, dos juristas Beccaria e Verri que, no século XVIII, dedicaram-se a lutar pelo fim das torturas e dos suplícios aplicados nos suspeitos e nos condenados em geral.

O pedagogo da esquerda




O alvo de Bobbio foi preferencialmente a esquerda italiana (especialmente o então poderoso PCI de Palmiro Togliatti e Enrico Berlinger e, em seguida, os jovens rebeldes de 1968 que formaram as Brigadas Vermelhas), a quem pedagogicamente tratou de doutrinar, convencendo-os de que a democracia era algo definitivo e não um momento tático preparatório para a revolução comunista do futuro. Avançado era defender os direitos humanos – entendido por ele como “a religião dos cidadãos universais - , que ele assegurava irreversíveis e progressivos.

Apesar de entendê-la falha e insatisfatória, eivada de promessas não realizadas, a democracia era o sistema mais progressista que uma sociedade civilizada podia almejar Louvou-lhe a tolerância, o principio da não-violência, a possibilidade de renovar-se e o seu ideal de fraternidade, herdado da Revolução Francesa de 1789. Chegou-se à democracia, insistiu ele, porque o passado histórico revelara-se um “imenso matadouro”, dominado por guerras religiosas e por perseguições políticas de toda ordem (O futuro da democracia, 1984).

Como um cidadão europeu escaldado pela violência ideológica que varrera a sua época, marcada por duas guerras mundiais, ele entendeu-a, a democracia, como um oásis de paz capaz de dar água a todos os que, de boa vontade, nela fossem saciar-se. Ao fim da vida, senador vitalício da república italiana, na trilha dos antigos romanos como Cícero e Sêneca, ele por igual deixou suas impressões gerais registradas, publicando De Senectude quando atingira 87 anos. Um comovente testemunho e lição de um dos grandes sábios do século que deixou o mundo no dia 9 de janeiro de 2004.

Roberto Machado - entrevista - A filosofia da tragédia

http://www1. folha.uol. com.br/fsp/ ilustrad/ fq1411200607. htm

São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2006

A filosofia da tragédia

O filósofo Roberto Machado traça as relações entre o teatro grego e o pensamento alemão do século 19 e diz que a academia brasileira, ao adotar o "modelo da USP" de extrema especialização, quase "abdicou de pensar'

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo livro do filósofo Roberto Machado, 64, "O Nascimento do Trágico - De Schiller a Nietzsche" (Jorge Zahar Editor, 280 págs., R$ 38), dá o que pensar: sobre a filosofia moderna e sua relação com a tragédia grega, explicitamente, e, indiretamente, sobre a falta de criatividade de boa parte da filosofia brasileira.
O professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) afirma que, na modernidade, a tragédia deixa de ser apenas uma das espécies do teatro e passa a ser central para o modo como os filósofos entendem não só os dilemas do homem moderno mas também a própria constituição do mundo, do Ser.
"A questão da oposição, da contradição de princípios é um aspecto essencial dessa concepção ontológica da tragédia, isto é, da concepção de que a tragédia diz alguma coisa que tem a ver com o próprio ser ou com a totalidade dos entes, do que é, do que existe", afirma.
O que ele diz ter "ousado" fazer neste trabalho, ao abarcar um século de pensamento alemão, é tentar ser mais "extenso" que "profundo", marca segundo ele dos próprios filósofos estudados -e limite da filosofia brasileira.
Ele diz que o "modelo da USP" dos anos 60 -de resto em prática na maioria dos programas de pós-graduação em filosofia do país hoje- privilegia a extrema especialização, o que cria dificuldades para que se pense criativamente. "Caímos numa perspectiva de especialistas num período, num autor, e até mesmo num livro."

FOLHA - Por que o trágico é um tema e um problema para os modernos? Por que se ocuparam dele a partir de Kant, mas parece ter sido um problema menor no período anterior, entre Descartes e Kant?
ROBERTO MACHADO
- A posição que defendo em "O Nascimento do Trágico" é que só na modernidade -entendida como o período que começa com Kant- houve uma reflexão sobre o trágico. Para isso, valorizei a diferença entre uma "poética da tragédia" que, inaugurada por Aristóteles, se impôs até o século 18 como um estudo formal, analítico e classificatório da poesia, e uma "filosofia do trágico" que, formulada por pensadores como Schelling, Hegel, Hölderlin, Schopenhauer e Nietzsche, elaborou uma reflexão sobre a essência do trágico a partir do conteúdo da tragédia. Minha preocupação foi mais apresentar o "como" do que o "porquê" dessa transformação. Tentei mostrar que isso se deve muito a Kant. Não que ele tenha sido um pensador do trágico, longe disso, mas sim que, logo após sua terceira "Crítica", onde se encontra a estética, que analisa o belo e o sublime, Schiller, que foi um grande kantiano, retomou a teoria do sublime e, a partir dela, pensou o trágico.

FOLHA - Dá para dizer que o que unifica esses pensadores é que neles há sempre dicotomias, ao mesmo tempo que não é em todos que há dialética?
MACHADO
- Exatamente. A idéia que expus é que o trágico, a partir de Schelling, é sempre pensado ontologicamente. Mas fui além disso, defendendo que a questão da oposição, da contradição de princípios é um aspecto essencial dessa concepção ontológica da tragédia, isto é, da concepção de que a tragédia diz alguma coisa que tem a ver com o próprio ser, com a totalidade do que é, do que existe. Trata-se, portanto, sempre de princípios ontológicos que estão numa atitude antagônica, uma atitude de oposição. Acontece, porém, que esse antagonismo pode levar a uma harmonia, a um reconhecimento, a uma reconciliação, como é o caso em Schelling, Hegel e no primeiro Hölderlin, mas também pode levar a uma afirmação da dualidade ou da oposição, sem reconciliação dialética.

FOLHA - Pode-se dizer que o pensamento sobre o trágico é fundamental para todos esses filósofos, ou ele está em Hegel, por exemplo, mas não de maneira central?
MACHADO
- É possível detectar duas posições a esse respeito. Em Schiller e Hölderlin, por exemplo, que são mais poetas e dramaturgos do que filósofos, há uma visão do trágico que faz parte da própria visão de mundo que eles têm. Já em Hegel, o trágico é um momento de um processo histórico que vai além do trágico. Ele situou a visão trágica numa perspectiva histórica. Isso começa a mudar com Schopenhauer, pois a respeito dele é possível falar já de uma visão de mundo trágica.
Essa relação entre trágico e tragédia vai explodir completamente em Nietzsche, quando ele elabora uma visão do trágico independente do teatro e da tragédia. Por isso, considero Nietzsche o ápice de todo esse processo de formação de uma visão trágica do mundo. No último período de sua filosofia, ele dirá: "Sou o primeiro filósofo trágico; os próprios gregos ainda foram moralistas". Isso significa um deslocamento da temática do trágico do campo da arte para a própria filosofia como uma forma de pensamento que elabora uma visão trágica do mundo.
Enquanto Schiller criou o trágico como um conflito entre os instintos e a liberdade, conflito que acarreta a afirmação da liberdade moral, apesar das condições mais adversas em que o ser humano se encontre, como em sua peça "Maria Stuart", Nietzsche usa a visão trágica do mundo como alternativa ética. O trágico, para ele, se torna uma afirmação integral da vida para além das oposições morais de bem e mal.

Shopenhauer

Dentro da filosofia universal ocupa Arthur Schopenhauer uma posição singular, e completamente original. É o primeiro entre os filósofos de destaque, em tôda a história da filosofia, a proclamar sistematicamente que o amago do mundo é irracional, fundamentalmente oposto à inteligência e à razão.

Tal concepção representa uma verdadeira revolução na história da filosofia. A fé na razão é da própria essência de toda empresa filosófica e a essa fé na nossa inteligência corresponde, dentro da tradição filosófica, a firme convicção de que as nossas faculdades racionais nada são senão a manifestação, embora apagada, de uma inteligência universal que impregna todas as coisas e as dirige para determinados fins, segundo um plano inteligente. Precisamente por isso, por ser a nossa razão humana apenas um reflexo de uma razão suprema, dominadora do mundo, precisamente por isso temos a capacidade de filosofar, de conhecer, de saber e apreender a verdade, a essência das coisas. Pois as leis do universo são as da nossa própria inteligência. À nossa pesquisa incansável, embrenhada nos meandros misteriosos do ser, revela-se, milagrosamente, como num espelho, a nossa própria imagcm. Somos um microcosmo que repete, em escala miuda, o macrocosmo. Como o nosso olho, no dizer dos filósofos e de Goethe, é da qualidade do sol e por isso divisa a luz do sol, assim também a nossa razão é da qualidade da razão universal e por isso lhe apreende as leis e manifestações. Por mais que nós nos percamos no aparente caos dos fenômenos e na gigantesca amplitude dos espaços astronomicos, no fim encontramo-nos, deslumbrados, diante de nós mesmos. E toda essa concepção, que considera o homem um ser racional capaz de conhecer o ser racional do mundo, é, consciente ou inconscientemente, a base da maioria dos grandes filósofos, de Platão a Thomas de Aquino, de Descartes a Leibniz, Spinoza, Kant e Hegel, embora o criticismo de Kant já tenha começado a abalar essa segurança "dogmatica".

Schopenhauer rompe radicalmente com essa tradição. Estabeleceu como princípio metafísico um poder maldoso, boçal e cego, completamente irracional. Foi o primeiro a criar uma filosofia baseado no irracionalismo sistemático, mas não foi o último a fazê-lo. Dele parte toda uma corrente de irracionalismo, manifestando- se, de um lado, no "élan vital" de Bergson, e atingindo virulência, de outro lado, no pensamento de Nietzshe. Esse pensamento, por sua vez enriquecido pela afluente religiosa de Kierkegaard, tomou o nome de existencialismo (quer seja na sua forma religiosa ou ateista).

Como se vê, o impacto dessa concepção foi e é tremendo embora fôsse e seja mais indireto do que direto. Não é necessário falar aqui de fatos óbvios, tais como a "conversão" de Richard Wagner, entusiasta de Schopenhauer, cujo Tristão é, por assim dizer, o sistema do filósofo posto em música (embora a interpretação seja um tanto herética), ou como o pensamento de Níetzsche, cuja idéia fundamental , a vontade de poder, nada é senão a vontade de viver dd Schopenhauer, despida das suas raizes metafísicas; com a diferença de que Nietzsche, "invertendo os valores", não negava, mas afirmava, a vontade, transformando- a no mais alto e mesmo no único valor. Ao passo que na filosofia de Schopenhauer a vontade irracional, longe de ser um valor positivo, é apenas o poder de fato - causa de todos os sofrimentos - que por isso deve ser aniquilada, essa mesma vontade se torna na concepção nietzscheana o mais alto valor, a máxima finalidade, idealizada no "super-homem" .

A teoria de Schopenhauer de que a inteligência humana é essencialmente um instrumento dos interesses pragmáticos da vontade, foi adotada por Nietzsche, Bergson e os pragmatistas americanos, tais como W. James, Dewey e outros. A concepção estética do filósofo de Frankfurt empolgou gerações de autores e artistas e o conceito particular do gênio, como foi concebido por ele, encontrou ainda recentemente expressão num romance de Thomas Mann (Dr. Fausto), o autor dos Buddenbrooks, obra em que O Mundo como Vontade e Representação desempenha um papel decisivo. A hipótese de que existem relações entre o gênio e a loucura, conquanto explicação sistemática e Lombroso hauriu essa concepção na obra do filósofo alemão, colocando-o, respeitosamente, entre os gênios suspeitos de loucura.

A Metafísica do Amor Sexual (...) [obra que este ensaio de Rosenfeld introduz] é uma peça central do sistema schopenhauriano, cheia de intuições geniais, cuja repercussão no pensamento ocidental dificilmente pode ser exagerada. A vontade, que é a essência do mundo, tem o seu foco no impulso sexual: é pela primeira vez na história da filosofia, excetuando-se Platão, que o sexo atinge dignidade metafísica. Freud sempre negou ter lido Schopenhauer, mas a influência indireta, através de múltiplos canais subterrâneos, é tão evidente que não é preciso insistir nisso. É a obra de Schopenhauer, que pela primeira a vez focalizou sistematicamente a atenção nos fenômenos sexuais, inspirando com isso um exército de pensadores e autores, de Freud a Weininger, de Forel a D. H. Lawrence. (...) Toda a teoria freudiana de que o impulso sexual é a raiz inconsciente do nosso comportamento - representando o consciente uma crosta superficial - é de origem achopenhaueriana. A suposição freudiana da preponderância do irracional e inconsciente sobre o racional e consciente - base da metafísica de Schopenhauer - tornou-se, desde então, um lugar comum e pode-se dizer que o nosso tempo, no seu pessimismo quanto à capacidade do "homo sapiens" de guiar-se pelo intelecto e pela razão é tributário direto ou indireto da concepção de Schopenhauer, e o comportamento atual da humanidade parece ser um único, gigantesco esforço destinado a provar a metafísica do grande pessimista. A teoria da racionalização" e da "ideologia" - isto é, a elaboração de argumentos e mesmo de sistemas racionais, teorias filosóficas e teologias de acôrdo com os interesses mais ou menos inconscientes de uma classe ou de um indivíduo , teoria tão importante no pensamento de Nietzsche, Freud, no marxismo e na sociologia moderna, está contida na idéia de Schopenhauer de que não desejamos uma coisa por tertmos encontrado razões para desejá-la, mas que inventamos, posteriormente, razões, sistemas e teologias para mascarar, diante de nós mesmos, os nossos desejos profundos e os nossos interesses vitais.

Num pequeno ensaio de Schopenhauer sobre a loucura encontramos toda a teoria freudiana dos erros cotidianos, lapsos e esquecimentos casuais, a teoria da repressão e a teoria da fuga para a doença. É preciso notar, lemos num ensaio, "com quanto desagrado nós nos lembramos de coisas que ferem violentamente os nossos interesses, o nosso orgulho ou os nossos desejos; com quanta dificuldade nós nos decidimos a propor tais coisas ao nosso intelecto para exame exato e sério; com quanta facilidade, ao contrário, nos desviamos de tais fatos, esgueirando- nos deles, ao passo que circunstâncias agradáveis espontâneamente penetram na nossa consciência, tanto assim que, mesmo afastados por nós, insistem em assediar-nos. .. Naquela resistência da vontade de admitir que o adverso se apresente à luz da inteligência, reside o ponto em que a loucura pode irromper no espírito. Todo novo incidente adverso tem de ser assimilado pelo intelecto, isto é, tem de receber um lugar no sistema das verdades que se referem à nossa vontade, aos nossos interesses, e isso ainda que fosse necessário reprimir para tal fim coisas mais satisfatórias [o termo "verdraengen" para "reprimir" foi adotado por Freud] ... Se, todavia, em determinado caso, a resistência da vontade em face da aceitação de dada verdade alcança tal grau que aquela operação (da assimilação) não pode ser levada a efeito: se, portanto, certos incidentes e circunstâncias são sonegadas ao intelecto, porque a vontade não pode suportar-lhe a visão; se então, por causa do necessário nexo, a lacuna ou brecha é preenchida a bel prazer: neste caso estamos diante dum caso de loucura. Pois o intelecto renunciou à sua natureza de agradar a vontade; o homem imagina o que não é... A origem da loucura pode ser considerada, portanto, como um violento 'expulsar para fora da consciência" de qualquer fato, o que só é possível "pela inserção na consciência de qualquer outra idéia que não corresponde à realidade'".

Freud proclama a cura e Schopenhauer a salvação pela inteligência; ambos aceditam no poder da inteligência, na possibilidade da sublimação e libertação do homem através das suas faculdades racionais. A transformação dos fatos inconscientes em dados conscientes, pela análise em Freud, pela reflexão em Schopenhauer, é para aquele o caminho da cura e para este o caminho da salvação.

Arthur Schopenhauer nasceu em 1788, na cidade livre de Dantzig. Kant, cuja obra iria influenciá-lo profundamente, vivia ainda, Hegel, seu futuro "concorrente" na Universidade de Berlim, já era adolescente. Um ano mais tarde estourou a Revolucão Francesa, e uma década depois uma geração de jovens poetas alemães deslumbrará o mundo com a poesia romântica, cuja essência iria impregnar a obra de Schopenhauer.

A juventude de Schopenhauer não decorreu feliz. O pai, abastado comerciante, irascível e dominador, transfíere-se para Hamburgo, quando Dantzig é anexada à Prússia; não quer viver debaixo de um regime monárquico. Uma doença mental, herdada da mãe, e prejuízos finan-ceiros, levam-no, na idade de 58 anos, ao suicídio.

A mãe, vinte anos mais jovem do que o marido, era, bem ao contrário, uma mulher, muito bem equilibrada. Autora de romances sem grande valor, intelectualmente bem dotada, mas de poucos encantos femininos, muda-se depois da morte do marido para Weimar, deixando o filho em Hamburgo. Na capital espiritual da Alemanha, Frau Schopenhauer recebe duas vezes por semana a fina flor intelectual da sociedade weimarense, entre outras também Goethe, mais tarde magnânimo amigo do jovem Arthur - -na medida em que podia haver amizade entre dois homens tão imensamente convencidos do próprio valor. Wilhelm von Humboldt escreve, observador sagaz, escreve em 1809 sobre a mãe: "Ela me é desagradável pela sua figura e voz e pelo seu comportamento afetado".

Um homem mentalmente desequilibrado e uma mulher pouco materna - eis os pais do filósofo do pessimismo. Contudo, enquanto tem afeição pelo pai, só encontra pa-lavras amargas para Frau Schopenhauer: "A mãe transforma-se após a morte do marido fequentemente em madrasta"-. Ciumento como sempre foi, sente profundo desgosto em face da vida livre da mãe.

O jovem Schopenhauer é uma criança sem pátria e sem verdadeiro lar. Quando tem cinco anos, o pai muda-se para Hamburgo: "Assim perdi em tenra infância o meu direito pátrio. E desde então nunca conheci uma nova pátria". Em compensação tem o privilégio de realizar com o pai longas viagens à França e Inglaterra, ficando durante dois anos na cidade de Havre de Crâce, "onde meu pai me deixou... a fim de que, se possível me trans-formasse em um francês perfeito" ... Aos quinze anos parte de novo com os pais para um cruzeiro pela Holanda (país de origem da família), França, Inglaterra e Suíça. Essa viagem fora lhe prometida pelo pai em troca da promessa de desistir dos estudos universitários para dedicar-se ao comércio. Só alguns anos depois da morte do pai, o futuro filósofo romperia a promessa, incapaz de continuar numa profissão, contra a qual se rebelaram todos os seus instintos. Nas suas cartas à mãe, chora "a terrível perda da minha força adolescente, dispersa em negócios vazios", e sente-se "torturado por uma amargura insuportável do espírito".

Mas as viagens na época napoleônica, através de boa parte da Europa, proporcionaram- lhe experiências que nenhumma universidade lhe poderia ter dado. Entre os grandes filósofos alemães da sua época, é Schopenhauer o único que pertence à grande burguesia e que, muito viajado, demonstra possuir amplos conhecimentos das coisas, do mundo e dos homens, conhecimentos diretos, adquiridos pela própria observação. Isso confere às suas obras um encanto todo especial; elas parecem ser arejadas pelo vento do mundo. Toda linha revela o homem experiente, realista, que naõ acumulou a sua sabença no gabinete de estudos. Seu estilo é de um "homme du monde", elegante, preciso, rico de exemplos de cunho cosmopolita; estilo de um homem que leu os moralistas franceses e frequentou assiduamente os autores latinos e neo-latinos.

Tudo isso é qualquer coisa de inédito na literatura filosófica alemã, sobrecarregada de uma terminologia acadêmica e artificial, exalando, apesar do vôo imensamente audaz, o ar parado do provincialismo alemão.

Aos 18 anos, rompe com a profissão comercial e devota-se em várias cidades a estudos intensos. Já então é um solitário, vivendo à margem da sociedade. Velho deinais para os estudos ginasiais, a que tem de dedicar-se, cosmopolita demais para integrar-se na vida provincial, de temperamento brusco e modos pouco afáveis, extremamente orgulhoso e de mordacidade cruel, não teve amizades duradouras e profundas. As suas relações com os homens se tornam precárias. Já aos quinze anos é censurado pela mãe, por causa da sua no trato com as pessoas, e o colegial de 19 anos é expulso do ginásio de Gotha devido ao seu comportamento arrogante, "És insuportável e é difícil viver contigo", escreve-lhe a mãe.

Em Goettingen e Berlin estuda filosofia, mas em 1813 abandona a capital da Prússia para escapar às perturbações guerreiras. Retira-se para uma pequena cidade, onde "passei o resto do ano numa estalagem que me pareceu, numa época confusa, a residência adequada a um homem completamente sem pátria" e onde se sente satisfeito "por não ver um soldado sequer". Já naquela época começa a elaborar o seu sistema filosófico, obra que conclui em 1818, aos 31 anos, dando-lhe o título de O mundo como vontade e representação.

Nesta grande obra, sistema inteiriço, produzido, por assim dizer, de um só jacto, palpita sob a superficie serena, de grande beleza literária, a experiência dolorosa de um num mundo devastado por guerras, o qual se lhe afigura "o pior dos mundos possíveis", como se exprime rebatendo a afirmação de Leibniz de que esse mundo é "o melhor dos mundos possíveis". Já aos quinze anos revela extrema sensibilidade pelo sofiimento humano. "É terrível", escreve no seu diário, falando do Bagno de Toulon, "é terrível pensar que a vida desses míseros escravos das galeras... é completamente sem alegria... e totalmente sem esperança... Assustei-me ao ouvir que há aqui 6000 homens acorrentados nas galeras. A crueldade das guerras nnapoleônicas parece ter exercido profunda influência sôbre o seu pensamento e sua fantasia. Doravante, o mundo inteiro lhe parece um único grande hospital. E todo o "Weltschmerz" , toda a "dor do mundo" dos românticos vive nesta obra, que encerra em termos filosóficos a trágica experiência de um continente devastado a exausto, cujas mais elevadas esperanças de Revo-lução pareciam ter resultado em fracasso, milhões de homens pareceram, aparentemente sem sentido. Não havia sentido, tudo era caos. Na obra de Schopenhauer surge, pela Primeira vez no nosso tempo, o espectro do nihilismo.

Terminada, a obra, Schopenhauer embarca para a Itália, então o sonho de todos os intelectuais alemães que leram Goethe. O filósofo entra agora na casa dos trinta, já não é um jovem de bigodinho e juba loura. Os cabelos começam a rarear, a testa torna-se ainda mais ampla e o roste, com o nariz socrático, começa a semelhar ao do solitário Beethoven, cujas sinfonias costuma ouvir de olhos fechados. Com o gênio de Viena tem em comum um ouvido um tanto duro (mas nunca ensurdeceu) e como aquele não tem muita sorte com as mulheres. Toda a sua obra é testemunho do seu tremendo ardor sexual, nunca serenado pelo amor constante e profundo de uma esposa que o entendesse. Solteirão inveterado, que não teve nem ao menos o amor materno, odeia e despreza as mu-lheres, mas necessita delas desesperadamente, embora apenas como sexo. "ó volúpia, ó inferno, - ó sentidos, ó amor" - insaciáveis e invencíveis.. .!" lemos num poema que esreveu aos vinte anos.

Em Weimar apaixonou-se pela cantora Karolina Jage-mnn, amante do duque e inimiga de Goethe. "Casaria com esta mulher", confessava então à mãe, "mesmo se a encontrasse colocando pedras nas estradadas".

Durante a sua estada em Dresden (onde escreveu em quatro anos a sua obra principal) esteve ligado a uma mulher; outra amante, esta em Veneza, chama-se Teresa. É naquela cidade que perdeu a ocasião de conhecer Byron, de quem sempre foi um admirador irrestrito. "Possuia uma carta de recomendação a Byron, de Goethe (fato que lhe teria franqueado o acesso ao poeta inglês que, asse-diado como um astro cinematográfico, não costumava receber alheios) ... Sempre quis visitá-lo, com a carta de Goethe, mas certo dia desisti em definitivo. Naquele dia passeava eu com minha amante no Lido, quando minha Dulcinea exclamou: "Ecce il poeta inglese!" Byron passou perto de nós, com o cavalo a pleno galope. Durante o resto do dia a minha dona não esqueceu a impressão que ele lhe fizera. Resolvi, então, não entregar a carta de Goethe. Temia os chifres. Mas como me arrependi depois!

De volta da Itália, Schopenhauer habilitou-se como docente de filosofia na Universidade de Berlim. Mas como timbrava em colocar as suas aulas precisamente nas horas em que Hegel fazia as suas célebres preleções, ficava com a sala às moscas. A audiência mais numerosa que atingiu foi de nove estudantes. Desde então se referiu aos "pro-fessores da filosofia" com um despeito quase mórbido, despeito ainda intensificado pela completa indiferença com que o mundo acadêmico (e o mundo em geral) recebera a sua obra principal. Com efeito, só cerca de trinta anos após a publicação, a sua obra começava a ter repercussão, tornando-o em pouco tempo um dos homens mais famosos da Europa culta, procurado por celebridades de todas as partes do mundo.

A filosofia de Schopenhauer, como se sabe - e como mais adiante será exposto - é coroada por um verdadeiro evangelho do amor, no sentido de piedade e compaixão. Mas nas suas relações pessoais era um homem duro e inflexível. Desde 1826 tinha de pagar a uma costureira uima indenização anual de 60 taler, por tê-la posto violentamente no olho da rua. Quando ela finalmente morre, escreve-lhe no atestado de óbito: "Lá se foi a velha, livre estou da carga". Por ocasião da concordata de uma firma, à qual a família Schopenhauer confiara certa quantia de dinheiro, exige pleno pagamento da sua parte. "É meu sincero desejo que possa prosperar de novo", escreve ao chefe da firma, "e terei imenso prazer se me atingir tal notícia; só quero que a sua felicidade não se estabeleça nas ruínas da minha. Os meus filhos ainda passarão por mim em brilhante viatura, enquanto eu me afastarei ofegante, pelas ruas, um velho, gasto professor... Os meus mais sinceros desejos o acompanham - pressu-posto que não me fique devendo nada... " O resultado foi que Schopenhauer recebeu a soma integral, ao passo que para a mãe e a irmã só restaram 30 por cento.

Depois de uma nova viagem à Itália, o filósofo se estabelece em 1833 definitivamente em Frankfort, onde se tornou habitué da mesa do Englisher Hof. Como companheiro tem um cão chamado Atma ("alma univer-sal", na filosofia bramânica). Pontualmente a uma hora, ao soar a campainha, dirige-se o Dr. Schopenhauer para o almoço, vestindo uma espécie de fraque preto de corte antiquado. A grande calva é marginada, de ambos os lados, de duas asas esvoaçantes de cabelo branco. A barba hanseática que emoldura o contorno da face, sem cobrir -o queixo, é de um ruivo grisalho. A boca desdentada é larga, os lábios delgados parecem curvar-se num esgar atroz. Os olhos azuis surpreendem pelo seu bilho e duas rugas fundas descem do largo nariz para os cantos da boca. Na mesa, o filósofo da ascese come para dois, tanto assim que os donos lhe cobram uma pensão mais elevada do que de costume. A cadeira ao seu lado fica vazia, pois o filó-sofo não gosta de ser perturbado. De noite, acompanhado do cão, passeia pelos jardins, batendo com a bengala contra a terra e murmurando palavras inentendíveis. "O velho cão Schopenhauer está rosnando", costumava dizer Liszt.

Um outono pacífico, sereno. 0 ancião parece aque-cer-se ao sol tardio da glória. Lendo as cartas daquela fase, nota-se a imensa satisfação do solitário homem, ao verificar que aqui e acolá surgem círculos de adeptos, sim, verdadeiros apóstolos que lhe propagam a fama crescente. Em suas cartas registra cada visita de homens ilustres e não ilustres, vaidosamente posa para pintores e daguerreotipistas e analisa a semelhança do retrato, nunca satisfeito. Nesta altura, quase não se lhe acredita mais o pessimismo. Um homem, de nome Richarcl Wagner, manda-lhe o Anel dos Nibelungen e Schopenhauer lhe aconselha a tornar-se poeta ao invés de compositor. Realmente, não falta muito para que Schopenhauer se transforme em otimista ao notar a repentina moda do seu pessimismo. O filósofo, que pregou a negação da vontade de viver, tem uma tremenda vontade de viver. "Eu alcançarei uma idade avançadís-sima" , diz certa vez. "Meu longo sono e bom estômago mo revelam. Gostaria de chegar aos 90 anos. Mesmo aos 80, a morte tem ainda algo de violento".

Onze meses mais tarde morre sem sofrer muito. Contava 72 anos.

Que havia atrás da máscara trágica desse homem? Schopenhauer era um homem de imensa sensibilidade, um gênio dolorosamente exposto ao sofrimento e aos tormentos do desequilíbrio. Toda a sua vida foi uma luta tenaz para atingir um grau suportável de estabilidade psíquica. Andava pesadamente couraçado: couraça cheia de ferrões por fora - não me toquem! e coberta de asbesto por dentro: pois havia fogo nele - a chama de instintos tremendamente violentos e de impulsos insaciáveis.

A sua luta é perfeitamente caracterizada na parábola que dedicou à bem amada cantora Karolina Jagemann, quando ela já se casara com outrem:

"Durante um áspero dia invernal apertam-se os por-cos-espinhos de uma manada uns contra os outros para se proporcionarem mútuo calor. Mas, ao fazê-lo, ferir-se-ão reciprocamente com seus espinhos, de modo que terão de separar-se. De novo obrigados a ajuntar-se, por causa do frio, tornarão a machucar-se e a distanciar-se. Essas al-ternativas de aproximação e afastamento durarão até que lhes seja dado encontrar uma distância média em que am-bos os males ficam mitigados".

No seu sistema filosófico, Schopenhauer parte de um dos princípios fundarnentais de Kant: tudo que sei do mundo é, de início, a minha representação. As coisas só me são conhecidas, eu só as aprendo enquanto se apresentam como dados da minha consciência. Esta flor, aquele pássaro, a sua côr, seu cheiro, som e solidez, nada sei deles senão o que os meus sentidos transmitem àminha consciência. Como as coisas seriam em si, fora da minha consciência, não o posso saber; pois quando uma coisa se me apresenta, aprendo-a já impregnada das peculiaridades que os meus sentidos e a minha consciêcia lhe imprimem. Aquela flor, este pássaro serão "em si", fora da consciência, sonoros, coloridos, duros, macios, cheirosos? Não o sei, diria Kant; os conheço fora da minha consciência. Só os percebo dentro das formas da minha razão que é a condição de todos os conhecimentos. Se o olho humano fosse diverso, diversas se me apresen-tariam as coisas; se usasse óculos azuis, todo o mundo se tornaria azul; se fosse surdo, as coisas se tornariam mudas e eterno silêncio reinaria no mundo.

Isso, em filosofia, é um lugar comum e não é preciso analisar o pensamento especificamente kantiano. Basta ve-rificarmos que de início só conheço o mundo como ele me aparece, como ele se apresenta aos meus sentidos e dentro das formas da minha consciência, com uma palavra, como eu o REPRESENTO: o mundo é minha REPRESENTAÇÃO - com essa afirmação começa a obra de Schopenhauer. O mundo, como ele se apresenta nas formas da minha cons-ciência (formas subjetivas como tempo, espaço e causalidade, isto é, a lei de causa e efeito) é só aparência e Kant chama a isso de "mundo dos fenômenos". As coisas independentes da minha consciência, isto é, não aprendidas nas formas de tempo, espaço, causalidade, formas peculiares à consciência humana, Kant as chama de "coisas em si". Negava que fosse possível saber algo delas.

"O mundo é minha representação" , diria também Schopenhauer. Só o conheço desdobrado na duração do tempo e esparramado na extensão do espaço, tudo se pro-cessando segundo a lei de causa e efeito. Como seriam as coisas na realidade, em si mesmas, independentes da minha consciência e das suas formas e leis? Kant, afirmara não o saber. É neste ponto que Schopenhauer se separa de Kant, tornando-se metafísico. Afirmava sabê-lo. O mun-do, na sua essência, em si, independente da minha cons-ciência, é VONTADE. 0 mundo "em si" é vontade, para nós é representação. Posso sabê-lo, pois não sou só cons-ciência, sou também corpo e coisa entre coisas e corpos. Como todas as coisas, meu corpo é-me dado como coisa qualquer e nesse caso ele nada é senão mais um "fenômeno" exterior, dado pelos sentidos e aprendido nas formas da minha consciência. Além disso, porém, tenho um conhe-cimento imediato do meu corpo, "de dentro", por assim dizer. E visto sob essa perspectiva, a intimidade do meu corpo se me revela como vontade. É esta a palavra que se torna a chave de tudo e que revela o funcionar íntimo do meu próprio ser, das, minhas ações, dos meus movi-mentos. Portanto, meu corpo é-me dado de duas maneiras diversas: uma vez como representação, como objeto entre objetos, submetidos às leis de todos os fenômenos que me aparecem; e depois, ele me é dado de modo totalmente di-verso: como algo imediatamente conhecido que se define por meio do termo "vontade". Na verdade, meu corpo nada é senão vontade que me aparece exteriormente em forma de corpo. O corpo é a objetivação da vontade. Intimamente, porém, pela intuição direta e imediata, sei-o vontade.

Eis a essência da filosofia dq Schopenhauer: Sei-me, intimamente, como um ser que quer, que deseja, que nunca deixa de querer e de desejar. Sei intimamente, que sou vontade. Sei que, o que exteriormente se apresenta como corpo, como objeto entre objetos, intimamente é um eterno querer, ansear, desejar.

Mas a suposição de que tal fato só se refira à minha própria pessoa seria digna de um homem maduro para o hospício. Evidentemente, os homens que me cercam não são só a minha representação subjetiva; eles têm realidade fora da minha consciência e a sua realidade intima é, como a minha, vontade. E isso não só vale dos homens, mas também dos animais, sim, mesmo das plantas. Também a essência deles é vontade, certamente uma vontade menos consciente, mais irracional e não iluminada pela inteli-gência; mas sempre vontade. E por mais que eu desça na escala do ser, sempre encontro, como realidade profunda, velada sob a superfície das aparências, objetivada nas mais diversas manifestações, - a vontade. O homem "reco-nhecerá aquela mesma vontade não só naquelas aparências, que são muito semelhantes à sua própria, isto é, nos ho-mens e anunais; mas a reflexão contínua leva-lo-á a reco-nhecê-la também na força que vibra e vegeta na planta, na força, por meio da qual se forma o cristal, por obra da qual o magneto se dirige para o polo-norte; na foça, cujo choque lhe salta do contacto de metais heterogêneo e que lhe aparece nas afinidades eletivas dos elementos como um fugir-se e atraír-se; e ela lhe aparecerá mesmo na gravidade, que em toda matéria tão poderosamente se ma-nifesta - impelindo a pedra para a terra e a terra para o sol: tudo isso, o homem reconhecerá como diverso só na aparência, intimamente, porém, tudo se lhe afigurará, como a mesma essência, como aquilo que da própria intimidade, lhe é tão bem conhecido e que nas manifestações mais claras e distintas nós costumamos chamar - "vontade".

Segue daí que o mundo é, na sua realidade ínthna, vontade - vontade una e eterna; pois só as suas mani-festações, como elas me aparecem segundo as formas da minha consciência, se desdobram na multiplicidade e di-versidade de tempo e espaço; em si, como coisa em si, fora dessas formas subjetivas, há só uma vontade não con-taminada pela diversidade de tempo e espaço - uma vontade única e intemporal. Eis o Mundo como "Vontade e Representação" - um mundo só, visto de dois lados, uma vez da intimidade real, como ela me é dada na intuição imediata do meu próprio corpo, outra vez da exterioridade fenomenal ou aparente, como ela me é dada segundo as formas subjectivas da minha inteligência.

O mundo é, portanto, na sua essência, vontade. Mas uma vontade irracional, cega e surda, pois a inteligência é só uma manifestação tardia dessa mesma vontade; só no homem a razão desperta, nos animais, ela é confusa. Nas plantas quase inexistente e nas coisas chamadas inani-madas a vontade se externa em toda a sua escuta irracionalidade. No próprio homem, a vontade é aquela mesma força irracional e inconsciente, só coberta por uma crosta delgada de consciência e razão. Razão que, com o um mí-nimo abalo, se rompe, deixando à vista as entranhas fu-megantes do nosso caótico ser o qual, na sua intimidade, é trevas e inconsciência. Tremenda concepção, concepção de um homem que via impor-se a vontade cega, nas guerras napoleônicas, no caos e nas ruinas que elas espalharam sôbre o continente flagelado. Entendemos a máscara trágica desse homem, os lábios finos, os vincos fundos da paisagem vulcânica dessa fisionomia devastada pela desíilusão e pelo despeito... A ele mesmo se revela essa vontade no implacável impulso sexual:

Ó volúpia, ó inferno,

Ó sentidos, ó amor -

Insaciáveis e invencíveis!

O sexo está no centro do mundo: pois a vontade éessencialmente vontade de viver, nada além disso. Ela se -manifesta no mundo animal através do impulso sexual, externamente representado pelos órgãos sexuais; impulso inconsciente de procriação, chamado "amor" pela deli-catesse da inteligência superficialmente superposta; im-pulso de procriação, pois o indivíduo, aparência fugidia, manifestação passageira, nada vale em comparação com a espécie, manifestaçíío eterna e pura da vontade. A vontade, no impulso cego da auto-realizaçã o, expressa-se numa es-cala hierárquica de "idéias platônicas" - entidades eter-nas, espécies, que são a objetivação imediata e intemporal da vontade: cristais, metais, plantas, animais, homens; ou mais de perto: em espécies tais como "cavalo", "macaco" "homem". Só no cimo dessa pirâmide hierárquica de "idéias platônicas", surge, frágil flor, a inteligência, fenômeno superficial, lanterna que a vontade se acende para encontrar o seu caminho na escuridão, mero instrumento e escravo, manipulado "à vontade" pela vontade.

Mas um mundo que, na sua essência, é vontade de viver, é um mundo de sofrimento e dores. Pois essa vontade cega não encontra, fora de si, nada que fôsse último fim onde pudesse descansar. O próprio ser da vontade é um querer incessante e eterno, um ansear que nunca pode ser Satisfeito, pois a satisfação seria a própria contradição lógica da vontade. É uma vontade insaciável, sem meta, sem sentido, que revira surdamente as entranhas do universo, multiplicada e fragmentada, em tempo e espaço, na fome e sede de milhões de intestinos, estômagos e dentes e no desejo violento de milhões de órgãos sexuais ávidos de volúpia e de procriação.

Todo desejo é sofrimento, pois é a expressão de algo que nos falta e de que necessitamos com urgência. E enquanto o desejo é infinito e eterno, a satisfação é limi-tada e breve - semelhante "a uma esmola dada a um mendigo, suficiente para para mantê-lo vivo hoje a fim de que a sua miséria ge prolongue no dia seguinte..." Do desejo satisfeito já nasce um novo desejo e alcançamos uma vez um estado de saciedade, surge o tédio, tortura igual à do desejo. Assim a vida é como um pêndulo que oscila entre o sofrimento e o tédio, e a nossa existência é "um negócio que não cobre as despesas..." Páginas e páginas Schopenhauer enche com a descrição de todas as torturas, desgraças e desesperos que avassalam a espécie humana, mais sofredora do que todas as outras, por ser mais cons. ciente e Éwnsível; pois quanto maior a sensibilidade, tanto maior o sofrimento.

Todavia, em meio do redemoinho das desgraças surge, sobrenadando, a inteligência humana, fragil instrumento criado pela própria vontade. Mas esse instrumento possui potências inesperadas. Schopenhauer, o metafísico do irracional, que proclama a realidade absoluta da vontade cega, boçal, prega, como coroamento da sua obra, o poder, da inteligência: uma vez surgida e desenvolvida ela pode tornar-se autônoma e independente, amotinando-se contra a sua servitude sob o chicote da vontade. Verificando, na reflexão, a tragédia causada pela vontade de viver, o homem é capaz de revoltar-se, negando a vontade de viver. Não pelo suicídio, porém, "pois a negação (da vontade) tem a sua essência no fato de que não se detestam os sofrimentos, mas os prazeres da vida. O suicida quer a vida, somente é insatisfeito com as condições em que ela se lhe apresenta. Por isso não renuncia, de modo algum, à vontade de viver, mas apenas à vida, aniquilando apenas o fenômeno individual.. ."

O sistema de Schopenhauer termina com um evangelho de salvação, salvação pela inteligência, que se manifesta em mais alto grau no gênio e no santo. O gênio, arran-cando- se duma existência conspurcada pelos interesses da vontade, entrega-se à profunda contemplação das idéias platônicas, cuja visão intuitiva reproduz na obra de arte. Nesta contemplação - de que também participa o apre-ciador da obra de arte - predomina a razão decididamente sôbre os interesses vitais e o homem é, por um momento ao menos, livre do infinito fluxo e do constante turbilhonar da vontade, como se tivesse desembarcado numa ilha remota de paz e beatitude. E essa felicidade de quem já não é escravo dos interesses vitais compensa o gênio pela sua mortal solidão "em meio de uma diferente raça de homens" a que nunca é capaz de adaptar-se.

É o santo, porém, no qual a negação da vontade atinge o mais alto grau. É ele que, penetrando no âmago do mis-tério, compreende que a existência individual é mero fenô-meno e aparência, nada senão o véu de Maia, que cobre os olhos de quem vive entregue aos interesses cotidianos e raciocina segundo as formas subjetivas de tempo, espaço e causalidade. 0 santo compreende que, na essência, ele idêntico a todos os homens (e mesmo aos animais), pois é a mesma vontade que se manifesta em todos. E compreen-dendo que a multiplicidade dos indivíduos é mera aparência, já não afirmará egoisticamente a vontade de viver, mas sentirá, com profunda compaixão, o sofrimento de todos os irmãos, idêntico ao seu próprio sofrimento. E a compaixão, essa participação sofredora, que intensifica a própria dor além de todos os limites, levará o santo à ascese e à completa negação da vontade de viver.

Cessa a procriação. Se a negação da vontade se tornar predominante - e tal acontecimento dependeria de um milagre - neste caso, eliminada a vontade, desaparecerá também o mundo dos fenômenos que nada é senão uma manifestação daquela. "Não havendo vontade, não há representação, nem mundo". Não resta nada; ou resta só o Nada - o Nirvana.