sexta-feira, 17 de junho de 2011

O normal e o Patológico - um ensaio acerca de George Canguilhem

Desde o nascimento, a fórceps, senti a resistência pulsar em minhas veias...
Aos sete anos já questionava a Trindade e vamos combinar não há nada de normal nisso.
Quebrar barreiras, insistir no entendimento de como as coisas são num tempo como o nosso não é lá tarefa para ajuizados.
Mas, como a filosofia é a remissora das causas ditas "perdidas", posto que para a filosofia o importante é a elucidação, o clarear das idéias...não importando quais...
Investigar, problematizar é tarefa das faculdades tidas como racionais, tanto é que desde Descartes no século XVI vemos separando as coisas para facilitar a dita ciencia.
E como não é de se espantar sempre percebemos algo na surdina das coisas, um quê de nada explicativo...esses dias enviei uma provocação a um professor sobre o nada sartreano que ficou sem resposta, ou fui tida como estúpida ou como sei lá o que, que não merecesse resposta, mas voilá as coisas e as pessoas são e ponto.
Sartre mesmo irá argumentar "O que importa não é o que fazem com vc, mas o que vc faz com o que fazem de vc".
E foi assim que encontrei Canguilhem nesse espantar com conceitos tidos como naturais e universais...
Esse francÊs que já é do século XX tendo nascido num vilarejo da França em 1904 e morrido em 1995 com 91 anos deixou um legado de provocações ao sistema positivo que estava se impondo o que nos dariam as bases do liberalismo, neo liberalismo, e nossa economia de mercado.
Além de filósofo foi médico e atuou e viveu a Segunda Grande Guerra, critica profundamente a forma de como as questões voltadas À pratica e ao olhar da medicina foi construida a partir de premissas únicas e não questionáveis como as de Broussais.
Interessante é a perspectiva que traz ao analisar o normal e o patológico do ponto de vista organico, genetico e histórico, demonstrando que o mal estar na civilização é na verdade a consequencia daquilo que fazemos de nós sem percebermos.
A falencia dos orgãos generalizadas que culmina na morte, não é mais do que o encerramento de uma sintonia de vida que não teria como não desafinar, posto que maior mistério não há da harmonia de tantas notas juntas na musica.
Bem como a distinção do ser vivo tido como normal, diante de um enquadramento que se dá no centro daquilo que definimos como norma, regra.
Quando entendemos que o conceito de normal se dá de acordo "À altura dos deveres resultantes do meio que lhe é próprio", também temos a definição do que seria o ser vivo normal quando está num determinado meio "na medida em que ele é solução morfológica e funcional encontrada pela vida para responder as exigencias do meio" 1943, p.21
outra definição interessante seria a do conjunto dos disturbios causados atualmente são "produzidos na economia pelos agentes que tornam os fenomenos da vida mais ou menos pronunciados do que o são no estado normal".
Ou seja, nossos "stress" que geram angustia, palpitação nervosa, inercia, vontade de não fazer nada, nada mais são que sintomas de nosso tempo e nossas exigencias.
Demonstram que como tais devem ser analisadas, devemos recorrer o olhar ao que já está posto como ordem e progresso que ordem? e progresso de quem?
Quando olhamos para nosso corpo e percebemos que nada dele sabemos e que aceitamos como verdades formas de viver e manifestar para atingir objetivos para que e para quem mesmo?
Por isso os livros de auto ajuda e a necessidade das pessoas se relacionarem, segundo o autor a falta de excitação é a maior parte dos nossos males, já que no caso o início de todas as coisas, o fato vital primordial seria a excitação, o homem só existe pela intensidade dela, o oposto seria irritabilidade, ou estaríamos num estado ou no outro. E essas manifestações são exercidas nos órgãos vitais pelos meios em que somos obrigados a viver.
A idéia de Canguilhem é a de que na verdade o que só existem seria a doença.
Pois as doenças aumentam, diminuem, interrompem, deterioram a inervação do encéfalo sob os aspectos instintivo, intelectual, sensitivo e muscular.
Aquilo que é normal provém de certa normatividade, a vida só existe para esse autor por conta da "incitabilidade" que seria o que nos permite sermos afetados e reagirmos.
Se entendermos como funcionamos, talvez, só talvez, desmisitificaremos aquilo que não conseguimos explicar e perceberemos que somos mais vítimas do que imaginamos...

Nenhum comentário: