quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Filósofo brasileiro - Claudio Ulpiano

Estava pesquisando alguns sites relacionados ao encontro nacional de Filosofia (XXVII ENEFIL RIO) desse ano que se dará em Niteroi – RJ e “descobri” Claudio Ulpiano.
Ouvi algumas aulas e me apaixonei.
Pesquisando, descobri que Claudio é filósofo brasileiro, lá do nordeste, morreu em 1999 e deixou um pensamento vasto e bastante alinhado com nossa realidade contemporânea, trazendo respostas e inquietações pertinentes ao momento.
Quero partilhar algumas considerações.

Lucrécio: A felicidade suprema e a Arte humana da infelicidade .


Nessa aula Ulpiano abarca a questão da felicidade suprema e a infelicidade em Lucrécio,denomina a criação do mito enquanto manifestação do homem, criado para apaziguar e amenizar o medo da morte. Em que o homem é produtor do falso, criou a idéia da infinitude na criação humana, os temores do inferno, como os castigos, as punições. As perturbações na alma geram sofrimentos imensos, emanam fantasmas que assombram o homem. Nossos átomos não nos pertencem, argumenta, pertencem ao universo, tudo que existe é átomo e vazio. Quando caímos produzimos dentro de nós pensamentos e são esses que nos libertarão, enquanto nossos fantasmas só nos aprisionarão.
Há em Lucrécio na obra “Da natureza” uma tentativa de afastar o homem do medo da morte, em provar que depois de mortos, estamos MORTOS, ao contrário da religião que prega que depois da morte, teremos a vida eterna, representando a infinitude e a imoralidade da alma.
Considera que o infinito só existe em ato e não em potencia, pois sabemos que existe o infinito, mas não damos conta de pensá-lo. Bem como argumenta que existem 2 tipos de infinito, o infinito vazio e o infinito de átomos, esses átomos diferentemente da Física quântica, ou dos tomistas, representa uma unidade e não se faz de forma estrutural, os átomos não teriam partes, mas sim seriam inteiros e não nascem e nem morrem. Todos os corpos são constituídos por conjunto de átomos, logo são estruturas e se são estruturas morrem. Através do conhecimento de nossos corpos apreendemos nossos sentidos, mas os corpos emitem átomos que prosseguem para o infinito através de contatos, como no caso de um jardim florido, o perfume das flores, seria a emissão daqueles átomos.
Interessante constar que para esse filósofo a conversa psicanalítica é muito pertinente, pois o século XX nos traz com Freud o entendimento do inconsciente, porém parece que o entendimento acerca do inconsciente não se restringe somente a essa esfera. Para Lucrecio existe um inconsciente natural que pertença já aos átomos da existência que são infinitos e imutáveis. Há uma oposição do sujeito psicológico ao pensamento da natureza, falar do amor é manifestação da nossa subjetividade, bem como os terrores e necessidade geram a necessidade do consultório psicanalítico.
Importante lembrar que a morte de Deus, não se daria em Nietzsche, mas sim em Kant, quando na Crítica da Razão Pura, ele lança a morte especulativa de Deus, e Claudio ainda diz mais, argumenta que somente a literatura ateísta é que pode nos levar a algum tipo de reflexão segura, posto que abandonaremos nossos medos.
Temos por hábito dizer que somente as coisas que conhecemos existem, aquelas que não conhecemos, negamos. A morte faz parte da vida, foi o medo da morte que fomentou a existência e criação de deuses. Por isso o homem alimenta medos e incertezas, cria seu próprio inferno, seus monstros e deuses que castigam e é por isso também que se criou a função de agente social, que seria o papel do psicólogo, professor, psiquiatra, todos aqueles que auxiliam quando enfraquecemos, sim, pois o homem parece que devido as distrações perdeu seus contatos in natura.
Abarca também a questão da sexualidade, pois parece que a vida nega a sexualidade, demonstra que na humanidade há 3 tipos de formas de se relacionar sexualmente, que seriam: homossexualismo, heterossexualismo e bissexualismo. Porém na natureza existem diversas formas de haver uma relação sexual e evidencia o exemplo da orquídea que para que a vespa espalhe seu pólen, cria um tecido que parece-se com a barriga de uma abelha, logo a vespa sente o cheiro da abelha e se lava no pólen e dessa forma a orquídea garante sua sobrevivência, levantamos também a relação que há entre uma folha e a gota d’água. A essas manifestações o filósofo trata como in natura.
A diferença em relação ao inconsciente freudiano e o natural seria o aspecto da moral, pois na natureza não há moral a priori, foi o homem que construiu a moral, diferente da ética, que para esse pensador, representa a relação entre corpos. Logo teremos bons e maus encontros, em que nos enriqueceremos ou nos envenenaremos.
A vida é trágica, nem otimista, nem pessimista e função da filosofia é nos entristecer, se a filosofia não nos gerar um mínimo de tristeza e de angústia ela não serve para coisa alguma, pois a tragicidade da vida consiste na apreensão do trágico da existência, uma mãe que perde um filho por exemplo, o envelhecimento, são características trágicas que nos faz pensar acerca da existência. Atualmente não existem mais heróis, os heróis são criados nas novelas, são os facilitadores para um caminho ético, a ética hoje se produz na novela, na mídia, nos interesses.
Para o filósofo, existe uma diferença entre a manifestação e a expressão, argumenta que a manifestação é fenômeno relativo e pertinente somente a natureza humana já a expressão é a constatação dos fenômenos da natureza, ou seja, o nosso entendimento é cerceado por manifestações e não por expressões.
Os temores da morte são as manifestações, representações que os mitos nos revelam que o homem tem durante a vida, ou seja a culpa, o arrependimento, são manifestações que o sujeito apresenta e não se libertar desses sentimentos seria um problema para encarar a morte. Existem registros em que grupos de pessoas viviam sem culpa e nem arrependimento, pois desconheciam tais sentimentos.
Nós complicamos as coisas devido a criação da infelicidade. Para Lucrécio, Os deuses só existem enquanto emissores de átomos, enquanto compostos de átomos, quando liberam seus átomos estes encontram os homens e reverberam, assim aprendemos a ataraxia grega que seria a indiferença, a tranqüilidade em relação as coisas do mundo.
O modelo do saber ocidental em Platão, nasce após o enfraquecimento do oriente em que existe uma clara distinção, em que para o oriente se originam os sábios ou sofois para os gregos e no ocidente caracterizou-se a filosofia, ou seja o amante da sabedoria e não o sábio. Para o ocidente, queremos saber o que é , lança-se a pergunta para a definição da coisa e da função dela.
Com Platão teremos uma filosofia sedentária que esta baseada na condução, na representação, repetição e a filosofia nômade oriental, a qual originou-se nos estudos de Lucrecio como sendo libertadora do medo da morte e sendo a alma para ele um conjunto de átomos e desse modo desintegra-se, a morte seria um desfazer-se dos átomos. O átomo é eterno e não o conjunto que é o corpo, o átomo não tem parte.
Argumenta que a visão que temos do amor no ocidente é uma visão amarrada e amparada pela punição, pela cobrança, pela culpa. O amor foi deturpado. Toma a representação de Venus como o amor voltado ao prazer e Eros o amor da criação, o qual é manifestação do homem, enquanto Venus seria expressão do amor, voluptas, prazer, logo o amor Eros não é real, é elaboração é manifestação, enquanto o de Venus seria expressão. Distinguir esses conceitos é fundamental na filosofia de Claudio Ulpiano.
O amor que aprisiona não existe, o amor é também causa das infelicidades do outro, não podemos ser dependentes do outro ser, todos somos plenos. A dor deve ser evitada, a religião é que impõe a dor como um pagamento pela vida eterna, pois como é tão boa precisa se superar e pagar por isso.
Claudio não se restringe a uma filosofia fechada numa monografia de um pensador somente, como ele mesmo argumenta, sua linha de raciocínio é aberta, utilizando-se inclusive do cinema e da literatura como fontes inesgotáveis de filosofar.
Para tanto, caracteriza o rosto enquanto representação de uma “socialização” argumenta que nossos rostos revelam quem somos devido as nossas expressões, cultura e geografia.
O rosto é indivuante e comunicante, em alguns cineastas como Ingmar Bergman em “morangos silvestres” podemos perceber o que chama-se de primeira idade ou primeiro plano, ou seja, o closed, esta ação descaracteriza a humanização social do rosto e deixa que ele se revele nele mesmo, observando as características contigentes dele próprio, esse também é o exercício da arte, revelar traços desumanizando, des socializando. A arte para Lucrecio através da expressão tenta produzir algo que libere os fantasmas, desumanizando, através da “expressão”.
Para Lucrecio o homem possui categorias que se revelam através de faculdades, coloca a sensibilidade, a memória, a inteligência entre outros como tais categorias e para Chowsky, pensar não pertence ao sujeito, não estamos habituados a pensar.
O homem foi quem criou a infelicidade, por isso tem que criar o super homem para superá-la, pois tem que derrubar o homem com seus medos, incertezas para dar lugar a um homem seguro e tranquilo em relação a morte. Modificar hábitos é essencial para o homem que quer encarar seus medos.

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