domingo, 11 de julho de 2010

A história dos gatos

Bem, ela começa quando voltamos à Taubaté.
Subimos literalmente a serra de Ubatuba e aterrissamos ao lado da casa dos meus pais, ou melhor, o que tinha sobrado de mim aterrissou...
Trouxe um cachorro a tira colo, o "Simbá", um bassezinho que foi arrumado para o Ricardinho quando a Marcela lá no litoral, resolveu sapiensiosíssima voltar para Taubaté.
Bem, não gostava de animais, era "azeda" a idéia de ficar limpando as necessidades do bicho, a ter que aguentar eles comendo tudo que vissem pelo caminho feito avestruz...enfim...o simbá veio sob encomenda: era lindo, limpinho, fazia as necessidades no mato, mas, é lógico, também rolava na carniça depois do banho. Era livre o bichinho, também em Ubatuba, quem não é.
Pois bem, trouxemos o bicho para morrer atropelado, lá na Av. São Pedro, lá pelas tantas de dezembro...
Estava indo para um curso na Defensoria, quando encontrei minha mãe na padaria, que me disse:
-Você viu o simba lá morto no buracão? (pça do cruzeiro).
Eu disse: - não, pq?
Ela disse: - ele está lá, esticadinho, morto, duro como pedra...
Fiquei sentida, mas não digeri a idéia, o ônibus vinha e como só passa de hora em hora, embarquei correndo...
Dentro do ônibus, refleti o seguinte:
Estou indo para um debate reflexivo na defensoria pública sob a questão carcerária e meu cachorro tá morto, abandonado na beira da estrada, é isso?
Indignada comigo mesmo, parei o ônibus, desci e peguei uma moto.
Chegando em casa, esbaforida, acordei a todos, antes tinha passado no supermercado, só para comprar uma flor para enterrar junto. Já tinha pensado em tudo.
Pegamos a enxada e fomos todos, inclusive as crianças, enterrar o bicho.
Todos indagaram, minha atitude de pressa para enterrar o bicho, então eu disse: O simbá fazia parte da família, era um ser vivo, maravilhoso, que amávamos, não podemos abandoná-lo morto na beira da estrada, temos que enterrá-lo. E foi o que fizemos, Eugenio cavou um grande buraco, e peguei-o em minhas mãos, embaladas, aquele ser, que buscando sua liberdade, morreu atropelado. Até hoje perdura sua rosa, lá na praça do Cruzeiro em Taubaté.
Não tive coragem até hoje de contar o ocorrido aos caiçaras que nos presentearam.
Voltando a Taubaté, tinha me mudado ao lado da casa de meus pais.
Relacionamentos difíceis da vida inteira, passavam por análise, verificação, constatação...
Vivencia, con-vivencia, nada melhor que o cotidiano para elucidar situações...

Meu pai odeia gatos...
depois que o simba morreu, me pediu para não arrumar mais cachorros, sem entender realmente o por quê, não questionei.

Então aconteceu...
Na verdade, desde que chegamos, logo começou...

Chegamos por volta de julho, agosto, tá fazendo um ano...

Estavam no cio...
berram e gritam feito gente.
Meu pai crio até efeitos para associar seu barulho ao humano...

e rasgam todo o lixo, buscando comida...
não ligava muito, mas me aborrecia da bagunça que sempre sobrava para limpar...

Eis então, que numa bela madrugada de reflexões...sim, pois acordar de madrugada, só qdo o cérebro não cala mesmo...
estava ela lá, enorme, barriguda, olhando para mim, profundamente, e me pedindo:
-Cooooooommmmmmmmiiiiiiiidaaaaaaaaaa!!!!

Foram vários os minutos que ocorreram entre aquele olhar.
Tantos os pensares acerca da insignificância do meu ser e aquela gata, grávida, faminta a me pedir ajuda.
Imediatamente, percebi que pertencíamos ao cosmo em medidas e proporções, e alimenteia-a.

Esse foi o começo...

Do nada, numa noite agradável, em que estávamos todos na sala, assistindo filme, comendo guloseimas, quando "Lisa" apareceu...do nada....

Chegou, entrou sem cerimônia e foi logo sentando e comendo conosco.
Nossa família feliciana, já começou a enche-lá de mimos...
eu disse logo a meu filho caçula:
-Não vá se apegar a gata, pois é bicho ingrato...não pertencem a nós e vem e vão conforme desejam...

E até hoje está conosco, não sem antes seduzir meu pai também, hoje ela tem até lugar no sofá e brinquedinho pendurado no teclado...tsc..tsc...
São tão meigos os felinos...

Depois da Lisa, aquela gatona grávida, começou a ficar maior ainda e tinha dificuldades em buscar comida, passei a alimentá-la carinhosamente, mas ela ainda corria de mim...

Ficamos nessa difícil relação por tempos.
ATé que ela pariu...
e nasceram 4 lindos gatinhos, que ela carinhosamente carregou todos para dentro de um quartinho vago que fazíamos de ateliê para o Eugenio, veja blog eugenioribeiro.blogspot.com, carregou todos na boca, é a coisa mais linda, assistir a essa cena.
e passamos a dar leite para os gatinhos.
As crianças logo se apaixonaram, a Marcela buscou imparcialidade, já que é alérgica e prefere ficar longe dos bichos...
foram crescendo e outros foram se agregando à família e a alimentação, é claro...
Hoje temos de sócio mesmo o plus, mas temos as visitas frequentes de um parente das crianças, de um casal de siameses bravíssimos, de poucas palavras, um gatão preto e branco, um brancão que vive machucado pois é muito valente e uma pantera negra, sei que ao todo são uns 12 gatos.

Eles nem entram em casa, nem incomodam muito, exceto pelo tanto que comem, que hoje em dia, estamos pensando já em montar uma ong de ajuda, para conseguir alimentar os bichos, risos.
Pensamos que fazemos uma boa ação cuidando dos bichos e nos alimentamos das lindas cenas felinas, que exalam ao olhar...
aliás, o proprio olhar deles, são apaixonantes. Pela noite, um risco, pelo dia, uma bola, uma minguante, tal qual a lua.
Perceber o quanto são maravilhosos, perfeitos e como é possível traçar analogias desses bichos com seres humanos.
haja vista, que os gatos, tiveram papel importantíssimo na história da humanidade, posto que se davam com as mulheres, pelo carinho maior que exalam devido a maternidade, e como a mulher até muito pouco tempo atrás era tido como aberração, bruxas, e etc...matavam as mulheres e os gatos, aí sem gatos para comer ratos, as pulgas proliferaram e surge então a peste negra..só isso só...olha a importância dos bichos...
É uma experiência constante de amor incondicional, de proposta de vida, cuidar desses bichos.
Pois são lindos, mas, completamente indiferentes à nossa pessoa, significância...e qualquer outro valor que gostaríamos de ter.
O único valor que temos para eles, é que os alimentamos, e ponto. nada mais...não se esfregam, não fazem festa conosco, nem se importam...
A Lisa, entre todos, recebe todo o tratamento diferenciado...mas, porque...ela é toda meiga, gosta de colo...dá-nos o carinho, logo, recebe privilégios e é assim na família humana também...
Existem várias analogias de relacionamento entre os gatos, que representam nosso cotidiano e nossas relações...
Bom, já me estendi demais sobre o estudo antropológico do homem e dos felinos e meigos gatos.

Quem tiver contribuições, são bem vindas, inclusive ração!!! risos

beijos no coração.

Um comentário:

Fatima disse...

PARABENS.........
ISSO TUDO E DE GRANDE VALIA PARA UMA EXELENTE REFLEXAO.
MUITAS VEZES PARAMOS PARA RELETIR SERES HUMANOS E MUITAS VEZES TIRAMOS MUITO MAIS CONHECIMENTOS COM OS ANIMAIS, PODENDO ASSIM APLICAR NO NOSSO DIA.

BJS